quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Pacto expresso

Tarefa:

1. Patrícia vai passear com o Max, filmar o passeio e editar um vídeo sem trilha sonora.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Desabafo II

Querido Diário,

Preciso abrir meu coração, espero que o tédio não impeça vocês de lerem até o fim pois tudo o que eu tenho para falar é chato! Tenho 23 anos e minha vida não está indo bem como planejei, sou uma pessoa de teatro que não se sustenta fazendo teatro. Meu futuro me violenta porque eu não tenho uma religião para me apegar, acho evangélicos, católicos, budistas e cabalistas cafonas. Eu sei que se eu morrer acabou. Também não estou apaixonada, quando se está amando as coisas são mais bonitas, mais vibrantes, mesmo que por um instante, mas eu não estou amando, e eu queria que me coração acelerasse por alguém, eu queria dividir o meu tédio com alguém. Fora isso eu não me acho uma pessoa boa o suficiente, eu queria ser mais paciente, eu queria sim ter uma religião, mas queria que fosse algo natural, queria ser menos vaidosa, queria ser menos competitiva, queria ter ligado mais para minha avó e não ter esperado ela estar numa cama de um hospital para fazer isso, queria viver de teatro, queria ter uma sede como a Cia. Armazém, queria sempre ter uma coisa boa para fazer nos finais de semana, queria levar mais o Max para passear, ele gosta tanto. Queria acreditar nas pessoas que fazem votos na virada do ano e usam roupas brancas. Mas eu continuo achando tudo isso boring!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

desabafo.


caros parceiros de violência,

eu preciso abrir o meu coração com vocês... eu não tenho gostado de ler o nosso blog, tenho achado ele bem chato, não consigo ler os textos até o final, acredito que sem querer criamos uma linguagem poética demais, pessoal demais e boring. mas isso é um problema?! talvez não, só quero dividir isso com vocês. tô sendo chato, eu sei... a gente podia se reunir, trocar uma idéia, sei lá...

beijos nada violentos
diogo

Querido diário,


Vou resolver isso de outra forma. Na presença de outras pessoas, em outro tempo. O peso argentino está barato e me disseram que lá tem uma balada chamada "el teatro". Vou interpretar uma noite dessas. Da ordem dos super conselhos: você deveria andar mais de patins. Nua, completamente nua. A casa está uma bagunça. Precisamos.

Fotógrafo: Ryan McGinley
http://www.ryanmcginley.com

Breve apresentação do projeto:

O projeto é uma videoinstalação, realizada a partir da experiência cênica de atores e imagens gravadas, que tem como tema básico a violência. Sabendo da amplitude do tema, “Violenta” limita sua área de atuação e criação no estado de pós-violência, ou seja, como as pessoas comuns são impactadas de maneira particular pelas inúmeras formas de agressão cotidiana, da mais brutal a mais sutil.

O projeto fala de um processo interior gerado por um estado violentado e não na exteriorização dele nem de seu motivador. Tocando em questões pertinentes a vida contemporânea, “Violenta” reflete a imposição que nos é feita na direção do silêncio. Apesar de sermos vítimas permanentes, nos omitimos em nosso direito de voz e veto. Caminhamos camuflando nossas feridas e apesar de procurarmos superar esta sensação, continuamos distantes da paz.


A estrutura do projeto abre espaço pra diferentes visões sobre o mesmo tema. Serão extraídos os pontos de vista dos atores, dos VJ`s e mais tarde, o do público, que toma o lugar dos atores. Neste momento, o público assume o lugar de observador da violência retratada neste ambiente, entre quatro paredes, através da projeção dos vídeos produzidos. Violenta se completa em sua última etapa, pois concretiza a impossibilidade de fuga, sensação que a violência nos transmite em suas mais variadas derivações. Estamos imersos em uma situação para a qual não se vê saída. Violenta propõe uma simulação destes sentimentos através da construção de imagens demonstrativas de nosso estado violentado. As projeções funcionam como espelho desta situação. São confissões e os participantes, por sua vez, testemunhas.


Violenta se propõe a servir como reflexão para buscar uma saída.

Para entrar em Violenta é preciso estar aberto ao diálogo. As nossas feridas sangram, mas a dor que lateja dentro de nós é da incompreensão.


domingo, 27 de dezembro de 2009

Eu não teria feito...

Justamente porque eu faço. Não dá mais para passar uma vida inteira se desculpando pelo o que não se fez. Não vem com esse papo outra vez, por favor. Ninguém merece.

Se o tempo fosse outro ele não seria tempo, ele seria ilusão. É tão difícil assim acordar e se olhar no espelho e reconhecer o vazio? Vazio é bom. Nele a gente pode jogar com tintas. Pisa na direção oposta, por favor. Já que tudo corre contra você, volta, vai vencendo muro e murro e encontra alguma coisa sua que possa valer. Eu não disse feio ou bonito. Também não estou te pedindo sentido, só te peço que sintas. Da próxima vez, não relute, deite em meu colo se jogue em meus braços e nem sequer me deixe implorar. Eu vou gostar. Você vai gostar. Nós vamos gozar [o momento] e será demais. Será o fim.

Eu poderia te dizer mil coisas que agora lhe trariam felicidade. Eu te veria sorrir. E isso me entristeceria, porque felicidade não é muito diferente de choro ou do silêncio. Tudo é pedaço, parte, deste ou de outro: momento.

Da ordem dos super conselhos: CALA ESSA BOCA DE TANTO GRITAR!

Ninguém te ouve? Eu te ouço. Eu estou aqui, me dispus a ler a merda que você escreve, a ouvir o que você lamenta e agora? E agora, porra? Você vai me responder ou vai reproduzir uma cadeia para a solidão que só parece ter fim em você?

O momento chegou. Não se sinta mal. Mas você sequer consegue dizer o que quer dizer. Você está escrevendo errado. Com palavras tortas, métrica errada. Com erros de português, inglês, italiano e francês. Você precisa se cuidar, precisa mesmo regar algo em sua casa. Pare de regar os cabelos e vá regar a cama. Crie nela um mofo imenso que lhe possa lançar para o quintal. E lá se hospede. Há de ser melhor.

Dormir sob o céu. Dormir desprotegido. Dormir junto com os bichos, junto com o mundo, junto com o sinistro, o estranho [unheimlich].
é incrível pensar que o unheimlich (ou o estranho) está tão dentro do universo do heimlich (ou o caseiro), ao ponto que se pode dizer heimlich para dizer unheimlich. Isso pode soar estranho, mas faz todo sentido. Tudo o que é caseiro para quem está de fora desse espaço reservado, é estranho e, por que não, perigoso. E, para quem está seguro em casa, tudo o que não pertence aos seus limites domésticos, é arriscado, não dá tanto pé. (saiba mais neste texto horroroso - assim como o seu - que eu achei no google)

Você pode ser outra. Eu agora estou sendo. Você sabe se tudo o que eu escrevo eu concordo? Você sabe o que eu sinto, sabe o que eu quero? Eu também posso te dizer sem saber. Eu também posso e as merdas são merdas, elas se reconhecem, não podemos tão diferentemente assim ser. É pessoal. É ficção. É tudo desculpa para a nossa condição.

Olha, pára de vez com esse papo. O amor é mais forte. Mas precisa do teu corpo para existir. caralho! Se for o caso, faz que nem sua amiga, se mate, e acabarás com esse amor todo que te faz assim, mole. Lazy. Lembra daquela tarde, quando você me disse, Gentileza gera gentileza que gera gente lesa, eu te completei.

Eu estava certo. Você não é filha da puta, é filha da Gentileza.

Ah, por favor. A ladainha é sua. Quem ouve Maria Gadú é você. Então sofre sozinha ou reconheça que o mundo vai te sofrer. Porque o mundo vai, meu amor, mas ele vai mesmo. O mundo vai te sofrer, te estuprar, cabar c'ocê. Você não fez nada. Mesmo. O seu problema é que você nunca fez.

E agora, Joseca? Eis que Drummond te pergunta: o que hacer?

O euro está caro demais para fugir ao cartão postal. Vais ter que resolver isso no Centro. Ou na esquina de casa.

\\\\


Fotógrafo: Chema Madoz.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Eu teria feito...

se o tempo fosse outro, eu teria feito diferente. Eu não teria pisado na direção oposta à nós dois, não teria começado a encher meus pensamentos de coisas racionais para não te encontrar . Eu teria me jogado nos seus braços todas à vezes que você me emplorou isso , teria aprendido a apreciar o seu lado. E poderia ter falado mil coisas pra te ver sorrir , ao invés de me calar quando você chorada. Eu to calada ainda. E ainda tenho mil coisas à serem ditas , mas ninguem ouve , ou eu não quero que eles ouçam. Eu teria feito com que esse momento não chegasse , e eu não precisasse ficar pensando que eu poderia ter sido outra , no mesmo corpo , mas outra. Eu teria afirmado que o amor é mais forte , por mais que soasse brega. E ainda soa. Eu teria tido tempo para nós dois , trÊs , cinco. Teria tapado meus ouvidos para não ouvir a ladainha dos vizinhos mal amados. Teria te enrolado num leçol , te colocado na mala e te levado comigo até Paris.
Mas eu não fiz nada. E agora peso no que eu teria feito se eu fosse verdade.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Eu teria dito...

Caso alguma coisa não tivesse me calado. Estamos falando sobre amor, sempre, sejamos isso mesmo, bem autoritários. O que ela escreveu, o que eu, você, nós, todos elas, elas, os indefinidos, o que escreveram todos os nomes, todos os artigos, pronomes, pretensos escritores. Tudo foi é e sempre versará sobre o amor. Sobre esta invenção. Sobre este horror.

O amor é alguma coisa que inventamos para amenizar a solidão. É mesmo alguma coisa, porque aceita ser inclusive a indefinição. Pode ser erro, acerto, acaso, passado, pode ser tempo, vento, beijo, desejo. Desejo. Acho que precisamos erguê-lo. Colocar o desejo no alto e instaurar a disputa: amor versus desejo. Desejo vence. Tem que vencer. Muitas vezes falamos que é amor aquilo que é fome, que é puro prazer. Pura sede dos toques, desejo sede do corpo gritando pelo choque! Choque!

Eu teria dito, naquele dia, naquela circunstância, eu teria dito: sério, você é a coisa mais incrível que está acontecendo comigo agora. Não disse. Fiquei quieto. Te olhando. Você perguntou. O que foi. Eu disse nada. Você disse nada. Eu em nada morri. Fiquei quieto, olhando seu rosto, seus olhos, sua cara, fazendo outras mais para tentar dialogar com o meu silêncio. Eu fiquei mudo, tamanha a vontade de te dizer o mundo. Tamanha a minha vontade de dizer vem, eu te seguro. Mas não disse. Eu teria dito,

se já não soubesse que com amor tem que ir devagar. Quem inventa essas coisas? Todos os amigos ao redor dizendo, vai com calma, com calma por quê? Se dentro de mim as coisas se avassalam e se atropelam e nem me deixam sequer entender? Pede-se calma ao desejo? Pede-se calma ao corpo que tem fome, sede, ao corpo carente, ao desapego?

Ele entrei dentro de casa. Estavam as duas no auge de sua prosa romântica. Se conversavam sobre a novela, sobre como crescem as crianças, eu não sei. Cruzei a sala e vinha pingando a chuva que me pegara desprevinido. Elas disseram, você vai molhar o carpete. Você vai pôr dentro de casa um rio. Eu me senti tão mal, confesso. E se eu ali parasse, todo molhado, e dissesse: quero ser rio. O que elas fariam?

Não soube como proceder. Me disseram de água, de rio, de molhar, quando sequer perceberam que aquilo tudo era eu. Que aquilo tudo eu poderia ser. Eu poderia ser. Eu poderia. Eu teria dito, vocês não percebem? O que vocês comeram, que cheiro é esse, o que aconteceu com o peixe, cadê sua comida? Quando eu vi uma cadeira caída no meio da sala, de ponta cabeça, eu soube imediatamente o que falar: e saí da sala, voltando à rua em chuva.

Na rua. Eu relutei mas sentei eu sentei na calçada encharcada. Eu fiquei parado, a cabeça pesando a cada gota que entre meus cabelos se instalavam. Eu abri os olhos, mirando o chão e pensei: as coisas todas correm, elas seguem toda um rumo. Eu não. Um rumo a seguir. Eu não. Um rumo. Ou nada. Um muro. Ou murro. Alguma coisa que pudesse me indicar um caminho, um fio, exato, a seguir.

Você cruzou a rua. Eu ergui a cabeça. Achei que tinha sido atraído por você que eu desconhecia. A luz do poste, sob a chuva, foi contornando o seu rosto através da rua em movimento. Quando nos vimos, você já não era quem eu queria que você fosse, como o visto naquele primeiro momento. Como o visto naquele primeiro momento em que eu não te vi de verdade, mas apenas a silhueta, apenas um corpo vago para meu desejo ali em mim despejado. Não temos jeito, pensei.

Sou um ser desesperado. E voltei para casa, resfriado.

Breve conquista de um amor talhado

Tantos encontros marcados e remarcados na agenda, tantos todos que não foram riscados e ali estão como mais uma marca de um primeiro encontro de tantos amores talhados e retalalhados em tantos outros. Quando eu te encontrei pela segunda vez nos apresentamos e eu te falei meu nome. Você falou oi, prazer em te conhecer, foi difícil chegar até aqui. Em um novo encontro nos apresentamos novamente. Você falou seu nome e eu disse oi, com uma vontade louca de fugir com você que me consumia como o tempo que passava e nos levava embora aos poucos. eu pedi pra que você não contasse para ninguém, logo eu! Que sempre fui tão independente nas minhas fugas. Talvez quisesse te levar por medo de não saber que você ainda lembraria de mim se eu fugisse sem você. Você apoiou minha vontade. Você me apoiou como se minha vontade fosse uma grande conquista sua. Talvez por não querer que você me apoie e sim queira também assim, tanto quanto eu, parti. Com o seu apoio. Um novo encontro na agenda. Está marcado. Eu estarei vestida de azul em frente ao endereço que você já sabe. Ou talvez não. Eu vou estar lá e novamente não irei riscá-lo se você não aparecer. Tenho certeza que vamos nos encontrar um dia, novamente. No Japão. Em um café no fim da tarde. Me proponha um amor talhado. Deixe que o tempo nos leve e que um dia a gente lembre daquele primeiro encontro, marcado por tantos escritos e manuscritos e uma memória que resistiu a tantas dores e amores. Só não me deixe riscá-lo da minha agenda, isso vai doer uma dor que só eu vou sentir, eu sei que vai, mas sei também o quanto é difícil evitar a dor de um retalho. Sejamos honestos e solidários ao tempo e aos desejos para observar uma nova breve conquista de um amor talhado.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Não tão breve assim...

Apropriação de Breve ilustração.

Quando ele entrou na sala, as duas estavam costurando. Ele queria atenção, elas queriam silêncio. Lá em casa, quando elas resolvem costurar, só pode haver na sala o barulho da costura. Nem grilo ousa grilar. Ninguém fala. A televisão cala a boca. Quando ele entrei na sala, elas franziram a testa. Franziram a linha preta. Ele percebi. Mas queria atenção, então adentrou até o centro da sala. E foi quando elas pararam de pisar no pedal da máquina. E passaram a pisoteá-lo.

Que ele queria entender, queria conversar, estava disposto a sair perdendo, mas queria ao menos tentar ali compreender, o porquê da mudança dos móveis. Mudamos os móveis porque mudar é necessário. Ah, muito bom, isso explica muita coisa. Ele disse sem provocar mas já provocando. Mudamos porque mudar é necessário e quem determina a necessidade, ele perguntei. É o estômago, ele (o estômago) respondeu.

A mesa estava posta desde cedo. Posta no canto da sala. O queijo destampado. As cadeiras de madeira sem os estofados (que estavam todos ao mesmo tempo sendo costurados). Cadeira sem estofado vira cadeira-impraticável. Ninguém tomou café almoçou comeu nada. Enquanto as cadeiras tinham seus estofados costurados, ninguém comeu nada.

Ele fica chato quando está com fome. Elas deveriam saber. Já deveriam saber o passado das mamadeiras atrasadas. Mas dentro de casa às vezes alguma coisa precisa acontecer para lembrarmos quantos somos, como fomos, o que fazemos, porque existimos, porque ela chorava ontem dentro do banheiro. A pia ligada escorrendo uma lágrima maior, infinita. A pia ligada era capaz de sobrepor a outra, aquele rio sem fim tão maior que de dentro dela ia se perder no chão. Por onde eu passei e gritei depois, Porra, deixou água cair no chão. Você é porca!

Ela era triste. Só isso.

Não era porca. Era triste. E ser triste dá essa sensação de sujeira. Porque pior que ser triste é ser triste sozinho, em escondido. Tem que guardar no rosto o choro chorado. Esconder no rosto o choro escorrido.

Quando eu tentei pegar um estofo para a cadeira. Ela costurou minha mão na sua e disse, Espera! Mas eu já estava esperando desde o dia do meu nascimento por alguma coisa. Ela me empurrou contra a parede, eu quase apaguei com as costas a luz fria da sala. Ela puxou a linha preta, engrossou a voz e disse, Me ajuda! Eu não entendi, não sabia se era para costurar, se era para comprar mais linha. Na dúvida, optei por ficar encostado na parede e esperar a almofada ser cosida.

Enquanto isso, dentro, o estômago temia fazer barulho demais. Mais barulho do que as máquinas costuravam. Mais barulho do que a dor de existir. Naquele instante. Naquela nossa casa. Mais uma vez. Sempre até a morte.

Breve ilustração.



Da nossa CASA.

Breve conclusão.

"Depois de tudo o que aconteceu com o Teo, eu comecei a me lembrar daqueles dias da nossa adolescência vendo ali o início do vírus que desencadeou a doença dele, era uma doença da casa.".

Beatriz Bracher em "ANTONIO"

sábado, 12 de dezembro de 2009

sábado, 5 de dezembro de 2009