segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

do que não foi

Acordei cedo para arrumar a casa, fui ao mercado e preparei todos os ingredientes para o nosso banquete, fiz gelo, estava feliz com a visita dos amigos. Mas ninguém apareceu e por distração não tiveram o cuidado de me avisar com antecedência. Talvez eu tenha passado muito tempo fora e as coisas tenham mudado por aqui, talvez eu não deva me importar.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

há tanto não escrevo

Belo Horizonte, 01 de dezembro de 2010

Deixei a casa por tempo indeterminado e agora meu quarto é o mais empoeirado.
Vamos sim faxinar, mas antes vamos beber vinho, ainda deve haver algumas taças limpas no armário da cozinha. Preciso contar o tanto de coisas que me aconteceu.
Acho que vocês vão gostar de saber que estou muito feliz aqui, depois de tantos e-mails dizendo o contrário.

Sinto muito a falta de vocês, em breve estarei em casa.

Por favor não mexam nos meus livros.

Beijo amo vocês
Patrícia Teles

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Faxina e remédio.

Liguei o som para ver se nos movimentamos.
Coloquei aquele cd antigo.
Dizia " rir é o melhor remédio para acabar o tédio, é sensacional"
Recebi a notícia de que teriamos faxina na casa.
Será que faxina também acaba com o tédio? 
Pelo menos diminui a poeira e podemos nos enxergar com menos embaçamento.
Quem sabe trocar algumas palavras.
Seria bom.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

evacuação e sexo.

Talvez eu tenha pirado,
ou não saiba mesmo como dizer as coisas.

Talvez eu tenha me cansado,
ou não siaba mesmo mais acreditar.

Talvez eu tenha me enganado,
ou não saiba mesmo mais dançar.

Talvez eu tenha me sufocado,
ou não saiba mesmo mais respirar.

Talvez a gente fique sozinho, por aqui.
Ou não sabemos mesmo mais dizer que nos amamos.

ou talvez a razão disso tudo seja só o meu coração.
terra de malboro.

os homens que passam por mim, na rua, todos
são como falos ambulantes.

Onde se vive.

Se morre sentado no sofá acreditando no jornal nacional.
Ou você para de se preocupar com a sua felicidade e cria alguma existência nessas paredes ou a gente varre tudo e estende uma placa no quintal.

Não se pode acreditar na ausência.

daquilo que não fomos capazes,


não vou dizer mais nada. se quiserem minhas palavras, espremam meu corpo contra o bueiro e façam assim que eu produza linhas, versos. estou realmente cansado. passou o nosso tempo. percebem? ou isso também se tornou impossível?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

copo

falta de ar. É que não morrer, eu acho, a gente sabe quando as coisas vão acontecer, ou pelo menos aprendemos a saber delas. As coisas do mundo vão sim sendo entendidas por camadas do nosso pensamento. Precisava falar com você pra me acalmar naquela madrugada. Meu copo cheio, meu corpo no esforço da respiração pulsava. Meleca, cuspe, lágrimas, tudo junto depois que me fizeram me sentir em casa de novo. E pra isso, todo aquele aparato, já conhecido, remédios, cama, colo, telefonemas, lembretes para a casa, cuidados especiais. Especiais no pior sentido possível. Não queria ter que dizer isso, mas é o que acontece quando junta tudo de uma vez. E as camadas, os intervalos, as pausas. Elas são um problema quando deixam de ser escolha. Se chorei aquela madrugada meu amor foi por sentir que todas as escolhas naquele momento estavam escapando de mim, era uma espécie de prazo de validade. Isso cansa, estava só cansada e ouvir sua voz ainda era uma escolha pra mim naquele momento. Precisava que você me escutasse e respondesse por suas escolhas. É assim que as coisas funcionam, ou deveriam. O problema depois foi sua fuga de suas escolhas. Sim, suas sim, se são nossas então são suas também. Dá no mesmo. Mas sei que escolhas fogem do controle também e por isso não te julgo, só te culpo por não responder. Por silenciar a mudança, o susto, o impulso. Na verdade talvez uma atitude como essa nesse momento se torne imperdoável. É que a casa está vazia e não tem porque se perder, entrar pela porta errada. Pra mim está demais sustentar essas paredes e preciso de ajuda para minha saúde, meu tesão, meu tempo. me esforço para que nada saia do lugar nesse momento, pra saber que logo vamos ficar bem e bater as portas que quisermos, ara sermos minimamente livres entre tantas preocupações. A medida que o prazer aumenta a dor aumenta junto. É assim que é. Pra mim isso sempre ficou muito claro na tentativa de respirar minhas felicidades. Por isso talvez as escolhas tão incontroláveis, continuar lidando com a morte recriando ela sempre me pareceu a melhor saída. É preciso muito cuidado então, para não parecer fácil.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Outro

Desculpe-me o egoísmo.

Tem alguém gritando lá fora, e eu reclamando de solidão aqui dentro. Eu estou um pouco assustada. Na verdade, estou com medo. Não sei o que fazer. Sou incapaz , por medo, de descer e prestar ajuda. Eu choro. É um pouco assustador esse gemido todo à essa hora da madrugada. E o pior é que eu nem consegui enxergar a sua cara. A cara da mulher que gritava, assim, as duas e vinte e quatro da manhã. Que imobilidade a minha. A nossa. Agora tudo silênciou-se. Não na minha cabeça. Como faço? Estou um pouco apavorada com toda essa gritaria que se foi. A gente não tem como fugir a matéria. É isso que somos. Corpos. E eles machucam, rasgam, sanram. Como pode? Machucar assim um corpo. Eu sei, estamos cansados desse discurso. Mas não dá. O que se faz com essa nossa imobilidade? É que os gritos interferiram toda a minha possibilidade de reclamação sobre nós. Porque prefiro estar só à estar aos berros com alguém que me invade a matéria. Eu não sei se vou conseguir dormir. Eu sei que estou, agora, segura aqui. As portas estão trancadas. Mas não é possível tranquilidade agora. Me sinto tão minúscula. Não sei resolver o quadro torto pendurado na parede, e quero dar conta da rua. Como faço? Eu não sei se sou capaz de proporcionar alguma mudança. Eu quero abrir as janelas, pulá-las. Onde se muda o todo? Que incapacidade. Que incapacidade. Fico achando que esse teatro todo não modifica nada. Só aumenta a gastrite. E a rua continua distante.

Traça

Não me adiantam essas palavras, assim, jogadas no lençol. Ele foi a única coisa que restou de nós dois. Você diz que estamos em dessincronia. Eu entendo. Eu entendo. Eu não entendo. Não me peça para olhar para isso com naturalidade. Não sei se memória sustenta as paredes. Poderia sustentar, mas caso fosse verdade eu não estaria chorando. E eu não estou. Eu estou olhando para o relógio esperando você sair desse deslocamento todo e abrir a porta. Minto. Eu estou, chorando. E tentando ajeitar o relógio. CALMA. NÃO ESTOU FAZENDO DRAMA. NÃO VOU QUEBRAR OS MÓVEIS QUE AINDA RESTAM EM PÉ. Não. Eu vou colher meus gemidos e esperar coberta com suas palavras. Mas é bom. Eu sei que ali o corpo não esquece. Em nenhuma das paredes. A gente sabe. Mas eu não sei se aguento a espera. Vou ficar nutrindo-me de solidão? Isso dói. Ou não. Mas eu estou inventando essa dor, ou me doendo de verdade, para ver quantas onomatopéias eu aguento sozinha.

entrada

Cheguei a pensar que estava insegura, mas descobri que é alguma dor, incômodo mais fácil de resolver, no sentido de que a insegurança é sobre dois. E dois é exatamente o que temos, dois relógios desregulados, dois tempos desencontrados. E no meio me encontro justamente quando estou com você, em você. E tem o que ainda fica, as sobras, o que vem junto, o que o corpo não esquece, continua a crescer, o que não tem pausa de relógio regulado ou desregulado, o que talvez não se explique mesmo. E no meio do caminho sobrou o tubo de pasta de dente amassado, lençol, roupa e prato sujo, colcha amassada, ventilador ligado, chuveiro quebrado e não sei o que foi feito deles. Não sei deles porque fazem sentido só com você, isso tudo, esse nós espalhado. E você já foi. É só isso, questão de querer. Querer não ter que ir embora. Questão de querer não saber do momento de ir embora. De querer não ter que ir dormir sabendo que de dia vou ter ido embora. De querer não ter que ver o dia sabendo que de noite vou ter que. Só de não saber talvez já fosse um alívio nisso tudo que agora permanece. Acho, na verdade, que é esse saber, essa constatação que mata. Porque é o que se seguiu, é aí que nos vemos, desse saber da partida. Não quero mais saber. Não quero saber de nada. Saber que não vou ter que acordar e te ver ir embora não é a melhor opção, a melhor é a espera. Mas por enquanto só vislumbro ela, a espera. A espera pressupõe surpresa e te viver em um espaço de tempo que me permita todas as surpresas que você me trás diariamente. Que bom. Quero um dia, dois, três, quatro, ver todos os sorrisos de um dia, as caras feias, as possíveis lágrimas, as palavras, todas, sem medo, os sons, o silêncio. Poder presentificar mais tudo que se segue em mim sem pausa, tudo em mim que é por você, nos dias com o sem. Então talvez nem exista mais dias sem você, são só dias. E é de fato o com você que mais me interessa, de todas as formas. Nas formas que os nossos corpos pedem. Acho mesmo que quanto mais a gente tem mais a gente espera. Vamos abrir espaço no meio do caminho, agir pra criar um tempo só nosso e fazer ele chegar. Cansar as paredes. É mais simples, não se trata de nada que não tem nome e que se perdeu. Tem nome e está achado, encontrado e precisa ser vivido. Agora estou bebendo mais um vinho sozinha. Que bom, só que dessa vez a sobra foi pra dois. Foi mesmo. É. E apesar de tudo tenho certeza do que não morre, nem em saber qualquer, nem em espera. Vive e segue. O contrário seria impossível. Sem você as paredes não aquentariam.

Traço

Desculpa,
eu nem me permiti ler o que ela escreveu. Tão logo li a palavra abandono, achei melhor já escrever a presente carta sem me contaminar com aquilo vindo dela. Ainda porque, eu também estou tomado pelo abandono. Tomado pela necessidade que os pais têm em trabalhar para nos sustentar. Sustentar as crianças, que assim seja. Eu quero dizer, em relação aos móveis a gente dá um jeito, lustra todos eles, passa óleo, dispõe novos livros sobre as prateleiras fazendo com que emudeçam embrigadas por linhas. Com os cacos a gente junta num canto e faz da erosão obra de arte. A gente finge para o próximo vizinho que (não) entrará na nossa casa, que se trata de alguma coisa comprada no MoMA, eles se impressionariam. A gente compra garrafa de plástico. A gente tenta cozinhar o feijão. Mas a questão é que com a gente, de fato, não parece ter mais solução. Para onde vocês foram que não foi possível sequer deixar um aviso. Que eu tivesse acordado com um post-it escrito deus colado sobre o televisor. Que eu tivesse acordado com o requeijão fora da geladeira sobre a mesa, que eu tivesse acordado com a lâmpada queimada dando curto-circuito... Com tudo isso teria sido possível amenizar a vossa fuga, porque eu me perderia - mais uma vez - tentando esclarecer suas desculpas. Eu teria passado essas semanas fingindo haver um mistério sitiado dentro de casa. Mas não. A outra disse com precisão. Trata-se de abandono: e nesse caso, talvez não teremos mais força para controlar os gestos provocados pela necessidade que temos de ser amado.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Rabisco

Desculpa,
mas estou preocupada com as crianças. Elas não estão entendendo esse abondono. Alguém precisa acompanhar o dever de casa. Eu posso ficar reponsável pelas estantes. Não é mais um pretexto. Não. Ou é sim. Mas gostaria que não fosse. Elas podem chorar e espernear. Eu não vou culpar-me. Quer dizer, culparei-me sim. Não dou conta dos choros. E todos estamos chorando. OU A CASA FICOU TÃO GRANDE QUE NINGUÉ SE ESBARRA MAIS? Acho que podemos encolher os cômodos e ampliar os corpos. Sinto falta daquela implicância. Estpa me doendo agora a SAUDADE. dos CORPOS, os nossos. E os desconhecidos. Sinto falta dos corpos que ainda não rasguei. Não que eu queira rasgar. Sempre reclamo tanto desses cortes (do que faço e dos que sofro), mas essa calmaria toda deixa-me a impressão de que nada se movimenta, e seria tão bom que tudo se embaralhase novamente. Eu estou rabiscando as paredes, todo dia. É fome de corpos. 

domingo, 24 de outubro de 2010

Agenda

Alguém me repassa o calendário que fechamos?

Estou perdido no tempo.

domingo, 17 de outubro de 2010

poeira entre o encontro das duas paredes da sala de estar

a verdade é que tá tudo correndo e a gente usa isso como pretexto para não se encontrar. está acontecendo com todos nós e eu acho digno que neste momento de clareza - minha - eu venha até vocês manifestar nosso erro. a nossa mútua falta de noção. sabe? não adianta dizer que não deu, não adianta empurrar a vida ao diante. ela acontece agora, neste exato minuto ela não espera o amanhã. percebam: nossa vida nunca será o futuro, nunca será o que poderia ser ou o que pudera ter sido. nossa vida sobrevive pendurada em segundos. neste no qual escrevo, e no seguinte que só é porque já derrubou o anterior e se fez presente, se fez grito.

eu não sei porque me dou ao trabalho de lhes dizer sempre o mesmo. me sinto mal, me sinto forçando a barra. e há tanto a ser feito. faxinar a sala a cozinha e o banheiro. colocar os objetos em seus respectivos lugares. por que é que temos tantos objetos? sinceramente, às vezes eu acho que temos medo de nos ver de verdade. medo de nos tocar, medo de compartilhar a pele e, inevitavelmente, o sabor do fracasso. por isso o ralador de cenoura, por isso os tapetes, por isso o porta copos e os sabonetes líquidos. por tudo isso as esponjas.

nossos encontros são utopias repentinas. queimam-se no tempo de um flash. somem sobre si mesmas. eles acontecem e tão rápido se consomem e morrem. eu (acho que) estou cansa(n)do da gente. mas é provável que vocês sequer venham a ver (pode ser que ela venha a ler tudo isso em novembro apenas). é provável que a outra veja por estes dias e ainda assim finja nada ter visto. é provável que neste exato instante, em que ela - você - lê isso, venha a querer se vingar de mim escrevendo algo ainda pior do que isso.

ele vai soltar algum comentário histriônico. a outra vai mudar de assunto. sim, juntos nós somos muitos. mas incapazes de sermos quem somos, de fato.

mas o que vocês não percebem é que somos filhos da psicologia reversa. somos filhos do contra. somos filhos do amor disfarçado em ódio.

eu vou fazer um café, arrumar uma ou outra coisa, lavar uma camisa, sei lá.

eu vou tentar fazer o meu domingo terminar uma semana que já terminou, mas que eu preciso acreditar que ainda está para começar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

doce

Lar,
onde estão os doces da casa? Abri a geladeira e não encontrei nada. Sim, eu sei. Ele não pode com doces, mas eu necessito. Onde está nossa doçura de ontem? Eu não sinto mais dor. Vocês não mais batem à porta do meu quarto para interromper minhas meditações. Quero mais interrupções. Sempre reclamei, mas sinto falta dela falando da minha falta de amor e do meu medo de qualquer coisa.  Ninguém abriu a janela e eu estou alérgica aqui. Não posso abrir a janela?  Alguém me dê um limite. A louça está acumulada. A cozinha está nojenta. As estantes. Bom, essa discussão ja tivemos. Mas ninguém varreu o chão desde que elas cairam. E estão lá. No chão. Com tudo que estavam sustentando. Tudo no chão.  Estou pensando em comprar um bichinho outro. Queriamos o coelho, sim. Mas ele não volta, você precisa entender isso. Alguém deixou cair e fim. Quando as coisas caem elas simplesmente caem e partem. Pelo menos penso assim para conseguir esquecer o fucinho dele. Era bonito né? Era essencial. Vou comprar chocolates para todos, alguns diets, claro. Alguns doloridos, claro. Alguns anti-alergicos, claro. Alguns com saudade, claro. Alguns com abraços, claro. Alguns palavras, claro.  Vou encher a geladeira. Mas, por favor,  alguém lave a louça.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

dor de coluna

eu ia desejar feliz dia das crianças.
mas faz tempo que não venta aqui dentro de
casa.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

não há lugar para o tempo, por isso ele corre, está em busca

   nao-lugar-02

gente, o inverno passou
a chave foi passada
não tem isso de tempo
a gente também corre
a gente encontra a sala

alguem a viu?

acordei
pisei no chão sem madeira
desci as escadas sem corrimão

e dei de cara no esterco
a grama matinal no lugar da sala

do jantar
do ser estar permanecer durar
como alguém normal
que acorda
desce as escadas
e encontra a sala

e não a grama,

que sob ela morava.

 

desculpem, é que eu me perdi de casa
estou perdido com o laptop buscando algo tipo parede para me recostar
mas só encontro esta tela
ela é tudo que hoje eu posso ler

eu posso ser

ela onde eu posso estar

sábado, 25 de setembro de 2010

a casa de cabeça para baixo










Assim que me recuperar vou colocar as coisas no lugar, abrir a janela e começar de novo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

não Não

Diogo,

sim, tem amor. Você se move pela falta, pela idéia de um vazio absoluto, impossível de ser preenchido. Algo morto, que por isso move vida. Mas assim só é possível o degradado, o rompido, fragmentado, quebrado, amputado.

é incompleto só isso.

eu te entendo mais comigo as coisas não funcionam assim, mas acho que pra você é difícil demais. Incompreensível talvez.

Quer saber, estou ficando cansada disso tudo também, cansada do distanciamento, das verdades absolutas e dos vazios conservados. Se existe mesmo alguma espécie de amor que você pronuncia algumas vezes no jantar, se existe algum lugar em que ele se encontra o que interessa é que dessa maneira não quero mais saber. Eu saber de você e você não saber de mim, afinal o que interessa são os seus olhares, o seu pensar o seu agir. Enfim, a questão é que criamos uma grande mentira. O que acontece é que pra mim o tempo faz de algumas mentiras verdades.

e é aí que está nossa dor. A dor que me importa se for impossível dela escapar.
é esse o momento em que falamos de vazios irreparáveis.

Mas se você quer viver de afastamentos não posso fazer nada.

Não me proponha tijolos.

Nunca mais.

Azulejo colorido.

Todos falam demais.
Estou pensando, arquitetando.
Paredes não são bobas e, por isso, não aceitam conclusões rasas.

talvez seja o caso de ver o piscina para a casa.
de plástico mesmo.
eu não ligo.
quem sabe, dentro dágua, a gente descobre a razão de tanto soluço quando se bebe gelado.

tem coisa, muita coisa.
o espaço é enorme e eu preciso pensar.
preciso de tempo.
estou afundando,
sem bóia ou pranchinha.
fiquei horas sentando no banco,
esperando algum de vocês irem me buscar.
não se esqueçam nunca mais que aos domingos
eu faço aula de natação.

por favor, não vamos confundir nossos livros.
temos espaço para tudo.

NÃO

não se trata de amor, eu já disse.

 

se trata de falta. falta de amor.

sabe por que as prateleiras cismaram em quedar?
justamente.

 

 

como disse, tá tudo explícito. só você não vê. você não vê porque resolveu procurar dentro de casa algo que nem existe, mas que te dá a vaga sensação de existência, de família, de amor… essas coisas. por favor, isa, eu te peço. não bastasse se enganar a si mesma, você ainda quer levar todos os cômodos juntos? não.

me deixe.

no próximo jantar eu te convido: vamos comer tijolos. você tá precisando disso.

 

fique restrita à area. e tome cuidado para não escorregar nas lamúrias do tanque. ele te decupou inteira. ele sabe que você gosta de gotejar. e dançar sob si mesma liquefeita em gotas. me ajuda. eu não aguento mais.

 

 

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bom dia

Acabo de receber a notícia que eu menos queria receber agora nesse momento, com tudo que já tenho em mãos e nem sei como lidar.

Você anda gritando meu nome por aí, mais uma vez, de novo em vão. No vão que você criou e eu achei bonito.
Vão de 3 paredes, ou quatro, não sei quantas agora, fiz questão de deletar. Precisava fazer isso por mim. Sei que foram mais do que precisávamos.
Eu tentei te dar todos os motivos que poderiam te afetar pra você viver a transparência de nossos corpos, você não só não demonstrou interesse em suas ações como quando resolveu fazer algo entre nossas paredes se levantou e deixou a porta aberta. Não saiu e continuou sem responder meus movimentos com alguns motivos para eu ficar. Qualquer motivo que fosse seu, de mais ninguém.

Quando olhei pra trás vi só paredes transparentes esquecidas, mais nada.

Desculpe se saí sem dizer nada. Sei que não é do meu feitio, mas se falasse um "ai" seria impossível, mal ou bem você me estimulava a sonhar e a ver alegria quando havia risco. Era bonito.

Mas agora o risco está entre outros corpos, novas casas. É bonito também, muito graças a você.

E apesar de nossas mentiras, nossas invenções sobre "nós", continuo aceitando seus gritos. Mas se for pra eu ouvir. Nada mais que chegar até mim diretamente causará impacto.

Quando se aproximar, se quiser, será bem vindo, mas peça licença. Já disse, a casa é outra.

de dentro

é amor e só, APENAS e unicamente por esse motivo preciso de um mapa. Tenho medo são muitas paredes, elas só aumentam, crescem, me perdi.
Mas sei que posso me achar, sei porque tem quem me procure nisso tudo.
Agora é a hora de juntar todas as informações necessárias, usar de outros artifícios, proferir frases já ditas antes, resgatar uma memória, citar até quem está fora da casa. Trazer pra dentro, deixar a porta aberta. Só não saia de fininho se meu corpo se tornar reação. Do nosso. Eu não vou sair por aí sem você. faça algo pra fazer valer isso tudo.

tudo

Não é nada disso.
E que bom, que bom que pelo menos você enxerga. Alguém tinha mesmo que duvidar de mim nessa parede.
Você me escreveu dizendo que somos infantes e que bom que foi ler isso. Sim, somos e é por isso que a dúvida pode virar abrigo.

Joga pra frente e reage. Só estou te provocando pra ver se alguma ação é produzida nisso tudo.

quem paga pra ver?

domingo, 12 de setembro de 2010

precisamos de um mapa

para nos guiar. está cada vez mais difícil adivinhar por onde as prateleiras estão nos levando. está cada vez mais difícil acreditar na nossa vontade de constituir família. desculpem. mas pareceu um sonho. só que eu acordei. eu caí da cama. eu sei lá. agora é difícil manter a calma. por isso vim aqui, ao confessionário, falar, escrever, especular, sobre isso que não sabemos o que é. isso que nos costura e que não é amor. amor a gente não////////////////// é o sono.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

perdão

minhas cartas foram queimadas junto com a erosão
minhas cartas foram queimadas com aquela chuva
minhas cartas foram queimadas no forno do fogão
minhas cartas foram queimadas ao vento
minhas cartas foram queimadas pela ferrugem
e pelo tempo pela poeira pelo contratempo
que me impediu de as enviar

foram queimadas sem selo
sem sorte capaz de bancar correio
e fazer com que chegassem seguras
as cartas
até você.

o que não houve foi segurança,
eu peço desculpas

minhas cartas se queimaram no natal
quando a família revirava os cômodos das gavetas
para encontrar combustível à lareira.

sabe o que aconteceu
(além de minhas cartas terem sido queimadas?)
aconteceu que fez muita fumaça dentro de casa
e a ceia teve que acontecer na varanda
dispersa
sem mesa
sem nem mais vela
nada
absolutamente nada
ali apenas nós
a vaga ideia de família
e um peru
m o r t i f i c a d o.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

sem

Era preciso coragem. Eu gosto disso. De inventar em mim uma coragem e uma força inexistente. E me colocar à prova, até a última torsão do corpo. Até que a dor seja insuportavél. Porque era mais insuportavél a idéia de não amor. de não dizer e se rasgar sobre os amores. Era preciso, em minha mente, ser intensa. É sobre o amor que inventei para permanecer em pé. Porque eu já nem sei até que ponto essa dor se deu de verdade. Falei com você sobre isso, ontem. Que eu não sei onde eu sinto, onde eu invento, e finjo sentir. Mas acredito em tudo que invento! Porque dói. Dói tanto e mais que aquele amor primeiro. Simples. Sem apelos e peles. Eu nos inventei. Aliais, inventei seu corpo em mim, porque não há possibilidade da minha existencia sem uma paixão. Isso é cruel. Eu sei. Eu acho. Mas deixe-me. A violência é minha. Não estou pedindo cuidado, nem pena, nem que você seja inteira, ou em pedaços. Não sei.
Ontem a encontrei e ouvi sua saliva e " você está pessimista. Não era assim. Antes seus olhos brilha:vam e pareciam sempre apaixonados". Eu me assustei. Não sei mais sobre esse controle que nunca acreditei ter. Mas minha invenção colocou-me de lado. Deixe-me. Ela deixou-me. Não me lembro se sorri ou chorei.  

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ãme

não, não doeu hoje o dedo indicador esquerdo sendo espremido no cadeado, não doeu a batida do alicate sobre a unha, não doeu o dinheiro ter ido feito tivesse asas, não doeu o cigarro, não doeu nada disso. hoje doeu já no fim do dia, quando cansado despido em casa com os olhos querendo se despidir, enfim, quando assim, voltei a ler umas coisas que havia escrito para a minha mãe, no orkut, em aniversários passados, enfim:

 

ai que saudade q eu tenho sentido ultimamente!
e sempre q eu volto pra casa é pior, porque sei que depois vou ter que voltar novamente para outra casa, que não é casa, porque casa sem mãe não é casa.
tem um filósofo aí que escreveu
"casa é o lugar de onde partimos"
putz, ele tinha toda a razão
pena que não viveu o suficiente para conhecer a era das casas móveis
dos contatos virtuais
do amor além do presente
e também, mãe
pena que não viveu o suficiente pra te conhecer
casa é sim o lugar de onde partimos
mas também o lugar para onde voltamos
tá confuso?
eu vou ser literal
"mãe é o lugar de onde partimos"
pronto.
não é lindo?
e é a mais pura verdade
te amo
para sempre
e esse é o único "sempre" que eu posso ter certeza que sempre será.
FELIZ ANIVERSÁRIO!!!
diogo

 

 

 

 

mãe,
dizer que você é a melhor mãe do mundo não faz sentido, pois todos os filhos dizem isso, e no final da história, todas as mães acabam sendo iguais, o que é muito empobrecedor.
não lhe escrevo estas palavras para dizer o quanto você é essencial em minha vida, nem para te encher de adjetivos que no fundo sempre serão poucos para te delimitar, mas escrevo, somente, como manifestação do que chamamos ser amor.
te amo, sim, a cada dia, em doses distintas. te amo com e sem precauções. silenciosamente ansioso pelo abraço de retorno, ou por simplesmente estar perto de você. pedi liberdade e você me deu. hoje moro distante, mas sinto falta das asas de mãe. às vezes tudo o que preciso é de alguém que faça o mundo parar e tudo parecer menos importante do que eu mesmo. do que a gente. às vezes, mãe, tudo o que eu preciso é de um ligeiro abraço seu.
feliz aniversário
para a coisa mais deliciosa da minha vida
te amo eternamente
diogo

 

 

 

e o status de mamy:

Estou muitoooooooo feliz !!!! "A felicidade às vezes é uma benção, mas geralmente é uma conquista" Bob Marley

 

 

 

donde lá ela tirou isso?

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

sobre os dois textos escritos no dia 20 de agosto

são 03:24hs da manhã do dia 21 de agosto,
não consigo parar de criar caso sobre o que me aconteceu no final do dia 20. Já estou um pouco mais tranquila e achei que deveria ir um pouco mais direto ao ponto, assim me exponho um pouco mais também. Estou com a sensação de estar me expondo pouco e isso não potencializa nosso trabalho de criação em relação a vivência dos acontecimentos, mas se "crio" caso é porque senti necessidade, de jogar um pouco com o acontecido e de fazer crescer outras possibilidades ao entorno, formas diferentes de se falar sobre o mesmo assunto.

Bom, o que vem ao caso é que ontem, a algumas horas atrás, no curso onde estudo teatro e pretendo me formar como diretora teatral, o curso de artes cênicas de habilitação em direção teatral da UFRJ, sofri uma tentativa de boicote ao meu espaço pessoal/coletivo de criação. Quer dizer, nós sofremos, afinal, a regra vale para todos e nesse caso mais ainda para as pessoas com quem estou de mãos dadas construindo e criando. Mas sofremos não só nós criadores, como também aqueles que nos proporcionam nosso fazer criativo e dependem delas. Foi em nome da busca por se fazer teatro que proibiram ele de acontecer, ou pelo menos tentaram, já que não foi possível fazer valer a nossa regra de boicote, tema de hoje, nem rejeitá-la.
Tenho infinitas críticas e argumentos contra essa regra, mas gostaria de colocar aqui aqueles que mais saltam aos olhos e tornam a violência um pouco mais perceptiva para os corpos movidos pelo movimento criativo de um projeto artístico em processo.
A primeira delas é como essa regra de fato fere o meu espaço individual de criação ultrapassando o âmbito da sala de ensaio do projeto em questão, referente a matéria de "direção V". Ela não diz respeito a NENHUM pilar de "formatação" de uma sala de ensaio nos moldes desejados para um primeiro exercício, ou pra qualquer "exercício" acadêmico. A regra simplesmente ultrapassa o âmbito das minhas obrigações como aluna da matéria referente. O que eu faço ou deixo de fazer fora do "espaço" da matéria e a maneira como eu articulo meus fazeres e afazeres dizem apenas respeito a mim, maior de idade e vacinada, principalmente contra grandes ingenuidades em relação ao assunto(pelo menos na tentativa). Aliás, "ingênua" é justamente como me sinto sendo taxada quando me é imposta uma regra tão imperativa e invaziva como a que falo aqui. Ingênua, alguém que não pensou sobre o que faz, não articula suas idéias e propostas, não tem propostas e tomou decisões aleatórias.
Outra crítica é como podem, propor o fazer teatral e impedí-lo simultâneamente. ???? Como é possível? De onde vem isso???? É algo completamente contraditório. Essa busca por um "teatro puro", um processo criativo o mais livre de crises e interferências exteriores pode ser um estupro para o teatro. Se o objetivo for fazer o melhor possível e assegurar uma criação mais potente, então, não proteja tanto, é o que penso. Desculpe professores, mas o argumento de que essa "regra" não é aleatória e sim matematicamente analisada e pensada não cola pra mim e me uma certa pena, além do medo de ter que trabalhar em um ambiente com essa bandeira e tantas outras levantadas, bandeiras em busca de verdades absolutas. Não que essa "construção racional" seja necessáriamente ruim, mas a valorização disso talvez, pois dessa forma colocamos a intuição em segundo lugar, bloqueando o espaço para o aleatório, não permitindo a crise, a confruência de "compartilhados". Aí não há teatro que se baste. Talvez não haja arte que se basta. Me parece que é justamente nesse compartilhar que a vida ganha novas ressonâncias entre recortes e diferentes formas de expressão.

Não falei até agora do que se trata a regra e não gostaria de falar por agora, pois ela ainda me soa tão absurdamente ilusória, ainda prefiro me reter as circunstâncias e as consequências trazidas, que acredito que devem estar sempre em observação e discussão e o significado disso tudo também não expresso com clareza aqui pois está, em parte, colocado nos dois textos publicados no dia 20.

Bom, por enquanto o que me cabe ainda é a sensação de estar refém e desaltorizada por autoridades aparentemente confusas. Vou continuar esperando e tentando me controlar nessa espera.

Vejo ainda algum resquício de inteligência e sensibilidade por parte de quem está a cima das decisões.

Hoje foi um pouco mais difícil, falei um pouco o que não gostaria de ter falado, entre acusações e julgamentos, mas o amor em alguns momentos impede a cabeça de racionalizar mesmo, aí vem o impulso, a exposição pela intuição, a abertura de novos espaços para o diálogo e a evolução.
Por se falar em evolução, se isso é o que é ambicionado, peço apenas espaço sobre meu tempo.

dobre os dias de hoje

é sobre ela, ele. Ela nele, eles nela, ele e ela ele e ela e ele quando foi atrás dela correndo ao vê-la sair correndo em soluços deixando algumas lágrimas partidas no meio do caminho sentiu uma dor dessa vez impossível de se reter entre mais algumas horas de fuga, quando saía por aí depois de um "tchau" se procurando entre imagens da cidade, construindo suas velhas e novas trajetorias em seus pensamentos que não podiam ser tocados por ela.
Ele foi atrás, correu no segundo que passou por sua cabeça a possibilidade de não vê-la mais, tomou ar no segundo em que pensou que estava distante dela e não sabia o que seria possível ela fazer com tantas lágrimas e parou no segundo em que a viu, sentada no meio fio tentando se recuperar. Sentou-se ao seu lado na tentativa de dividir a dor, queria só tentar dar jeito, por um segundo. Isso era o que importava naquele momento e talvez por isso possa chamar tudo aquilo de "momento". Ele não sabe. Não sabe sobre o que se dá e de repente em seu momento de dor dividida entre eles falou: ei, não vai se angustiar sozinha.
Ela agora além de se mover por lágrimas se movia através de um corpo meio descontrolado, tremido. Ela tremia. Ele quis segurá-la, mas sabia que talvez fosse melhor deixá-la se entender com seus movimentos para tentar extrair um pouco daquilo
que precisava saber para dar-lhes alguma espécie de sentido.
Ele então perguntou o que ela sentia e ela disse: medo.

trocaram algumas palavras divididas e entrecortadas, mas houve um momento em que ele falou um pouco mais para que ela pudesse recuperar sua respiração enquanto o escutava com atenção.

Depois ela buscou um pouco em outros, havia uma espécie de falta tentando entender um pouco o por que dele não ter segurado ela quando tremia de medo, mas logo em seguida ele resolveu caminhar um pouco mais e estendeu seu percursso pelo dela. A imagem através da qual ele se percebia agora era a dela em sua trajetória, dessa vez dividida. No final, quando os dois pararam, no momento da separação do caminho pra casa ele segurou sua mão e perguntou se podia falar algo para ela, que estava no telefone com outro, o que a impediu de perceber a caminhada dele ao lado dela. Ela então pediu um minuto no telefone. Sentiu sua mão sento segurada e escutou ele falar com os olhos molhados sobre a beleza do amor que havia visto em seus movimentos. Era isso que havia ficado para ele, foi isso que ficará para eles e poderá ser compartilhado se for a eles permitido fazer um tanto de teatro, serem arrebatados e criarem arremedos pela passagem de uma grande dor.

a volta dos que não foram

me violenta porque é abusivo, me violenta porque falava sobre aquilo que era genuíno em nós da maneira mais trabalhada e retalhada possível. Me violenta porque as palavras se confundem no momento de nossa explosão. Me violenta porque era tudo que eu mais queria no mundo, naquele momento e você? você? Você falou por cima, calou por cima. me VIOLENTA PORQUE SE CALA POR CIMA. me VIOLENTA PORQUE CALAM-SE. Me violenta porque quando eu me exponho você resolve usar isso a seu favor e não percebe que assim você está se expondo muito mais, da sua forma mais cruel. Me violenta PRINCIPALMENTE porque não falamos daquilo que de fato importa. NÃO FALAMOS DO MOTIVO REAL DE TODO ESSE AUÊ. MEU DEUS, OLHA O QUE NÃO FALAMOS, E ISSO me violenta ainda mais. Me violenta o tom sóbrio e inabalável quando tudo que falamos tem como tema nossas afetações, me violenta quando você não reconhece, me violenta quando você não me reconhece. Me violenta o outro, no mesmo lugar que eu. A falta de corpo, a falta de olho a falta de escuta, de presença, achar que sabe, que reconhece, me violenta, não poder. Me violenta o seu poder absurdo, imaturo, sem graça, disfarçado. Me violenta saber que isso estava distante de você mas você o colocou tão perto precisamente no momento de sua dor. Me violenta você não sentir usa dor. Porra! Mostra ela pra mim, me violenta vai! Sem saber, talvez aí possamos ter alguma espécie de compartilhamento sincero. De troca. Me violenta a falta de troca, não só comigo...e isso me violenta ainda mais. Será que você não percebe que não queria te acusar desse jeito?? Não vê que se te julgo me julgo por isso? Isso me violenta e só preciso que você escute o que eu estou falando pensando um pouco mais em ação, isso me violenta, a falta. O caso é urgente e me violenta o outro vir me perguntar o que eu estava sentindo e você nem saber sobre isso, sobre aquilo. Me violenta você não saber disso, me violenta a dor que você sente ao ver minhas lágrimas e achar que elas são por você e não por mim, digo, por outros. Me violenta a falta de outros, a falta de mim, o excesso de você.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Me violenta o amor bêbado que se esconde no ir e vir de copos para revelar-se.

Vem logo
Vem curar teu nego
Que chegou de porre
Lá da boemia...

mandaram eu me calar mas eu falei

Oficineiros,


Esse e-mail é um desabafo pois fiquei extremamente chateada hoje. Em algum momento o meu discurso pareceu pejorativo? Em algum momento tratei o assunto com deboche?

Ficou claro pra mim que a questão é estritamente pessoal. Somos avisados que temos espaço para expor nossas dúvidas, problemas, dificuldades e quando isso acontece apontam nossos defeitos de maneira agressiva ou irônica. Me pergunto o que é isso, despreparo? Frustração?

Parece que reina a lei do silêncio entre nós, estamos todos visivelmente cansados e insatisfeitos e com o dedo apontado pra nós como responsáveis pelo mau andamento da cena. Não quero fazer apologia a discussão, ao contrário ficou claro pra mim que não temos espaço para o diálogo, assim como a maioria vou adotar a postura do silêncio. Mas não posso deixar de desabafar que me entristece a opção que o grupo tomou de não se expor.

Sei que eu posso não permanecer no processo, mas essa não é uma questão pra mim, não vou desistir na metade do caminho, não é porque eu não confio no direcionamento que estamos recebendo que vou abandonar o que eu construí até aqui. Se tendemos ao fracasso terei o prazer de fracassar com vocês.

Não é meu intuito levar o assunto a diante por isso encaminho apenas para os atores. Sei das conseqüências que a má interpretação desse e-mail pode trazer e não quero de forma alguma que vire polêmica, mas tenho a necessidade de falar, mesmo que pela última vez, pois me senti hostilizada hoje.

P.T.

sábado, 14 de agosto de 2010

Ciúme.

é o amor que em mim transborda que me faz corajoso para dividir seu olhar e atenção com os outros.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cartas, dobre o dia de hoje.

Seu abraço me dói. Dói porque eu sei que ele vai ser partido, logo ali , adiante, e logo ali, na minha frente. E eu não sei, se é porque outro corpo te arrancou de mim. Mas sei que você está arrancada. Me doeu porque eram corpos outros, e amores novos, e eu senti falta do nosso cheiro. E me dói porque eu estou aqui ainda, desde que fui jogada, esperando você. Seu abraço. E eu não quero mais beijar outras bocas para suprir a sua. Não quero mais achar que isso resolve e muda a gente. Eu estou aqui com a porta aberta. Isso me violenta.Ver-te me vendo à espera do seu corpo. Violenta-me porque eu já não sei mais se acredito no que amei, ou amo. Não sei mais se acredito em tudo que lhe pedi. Acho mesmo que você está certa. A gente devia se expor menos, e se protejer, porque no fundo a gente sangra. E fica falando de forma brega tentando sorrir diante da nossa dor. Eu não posso mais, não quero. Não quero ficar parada com os braços estendidos, com os músculos esperando você se encaixar nos meus braços. Eu achei que isso tudo fosse troca, porque eu acreditei que era preciso isso entre nós. Mas eu estou cansada de não receber. Eu estou cansada da sua vaidade, do seu ego, da sua despreocupação. Sei lá.  Você não abraça, você se proteje, e finge que se entrega, quando no primeiro soluço dá um passo para trás. Me violenta eu ter que partir assim, depois de ter dito quase tudo e ter te dado espaço no meu corpo. Meu abraço está quebrado, meu corpo não quer mais isso que a gente criou.   Nossa como foi bom, estou com saudades e sem vontade. Como é dificil não te querer mais compartilhando meu corpo. Eu estou chorando e sensibilizada com os novos e velhos corpos. a criança lá de casa descobriu que o céu muda de cor. Eu não quero crescer. Não quero perder-nos nos abraços e ficar adulta Caio. Diogo, não me abondona em Vila Isabel, minha vó foi viajar e eu preciso do seu colo aqui. Patrícia quando eu chegar à noite, me espera na rodoviaria, a gente vai redescobrir os braços. Isa, queria muito um abraço seu agora.

carta sobre os dias de hoje

Entrei aqui hoje porque senti necessidade de continuar a dar sentido pra toda aquela vontade da qual falamos naqueles dias, mas dessa vez foi ainda mais natural e inevitável esse movimento todo, da vontade, do acesso, das palavras que escrevo aqui. Precisava falar um pouco mais com vocês, ouví-los. Pode não parecer, mas estou precisando muito de vocês. Ela continua, a vontade, e vem se espalhando por novos corpos que tem compreendido o egoísmo do meu e me deixado compreender também e aceitar e ser aceitada, tudo isso. Tenho me aproximado um pouco mais e isso me assusta, ainda mais quando vejo que agora tenho medo de perder.

Ontem fizemos o abraço. Foi difícil, foi difícil e foi bom.
Difícil porque sabia que dessa vez outra pessoa ia me tirar dos braços da Dominique. Porque sabia que o Caio não ia ganhar todos os meus abraços merecidos e desejados.

mas foi mais ainda difícil porque queria muito naquele momento a Patricia e o Diogo, sentados ali, naquele canto olhando pra mim. Queria olhar pra eles também. Queria que eles estivessem vendo o novo espaço que fizemos. Era um retângulo, a platéia toda sentada como em corredor. Ficou bonito. O abraço pôde transbordar, como fazemos normalmente quando estamos juntos.

Nossa, como foi bom(estou com saudade e com vontade), mas como foi difícil. Isso é nítido, doeu mas podia ter doído mais. Pra vocês posso falar isso. Teria sido ainda melhor assim.
Mas na verdade acho que não daria mesmo pra sentir mais dor sem vocês ali. Até tinha bastante gente. Era bom saber que quando eu saísse dos braços da Dominique teriam outros, alguns outros que já são amores e já fazem parte, dessa forma, das nossas formas. Amores esses, espalhados entre outros abraços, que poderiam dividir essa dor comigo. Em algum momento quis só os amores ali, queria me expor por completo no abraço, desfazer, refazer, correr, puxar e empurrar, suar, tudo junto e acompanhado, sem muita preocupação ou julgamento, mas tinham outros.

No fundo tudo isso aparece agora simplesmente porque já dói muito o medo de perder os braços em que nos encontramos depois do choque, já dói tanto essa dependência louca, esse conforto desconfortável, o tempo que não existe mas passa muito rápido, toda essa duplicidade, construída através de tanta repetição e persistência. Já dói, e só de pensar também na possibilidade da dor que o medo do novo causa, o medo de não saber e de ter que lidar assusta.
Uma das meninas(ainda não importa o nome) que encontrei no meio do caminho, a outra que não era amor, nem faz parte, ficou presa na minha roupa pelo aparelho, tivemos que usar uma tesoura. Era a Vanessa.

Tenho medo do novo, só isso, medo do útero, pronto para fazer nascer. Tenho muito receio, duvido, mas continuo amando.
Isso pode ser considerada uma postura de adulto?
Espero que não, estávamos muito adultos Caio, essa tal "energia do adulto" é muito forte, pesa e não dá pra achar que é possível ter o controle de tudo. Na verdade você que me mostrou isso. Não sei se os outros adultos perceberam isso, mas senti falta um pouco do choro das crianças, os risinhos, os xiliques, toda a loucura e fragilidade sincera. Gosto daquele auê feito entre nossos amores, compatilhado com quem faz parte e dividido com quem vem chegando.

Fico feliz por falar isso, feliz por poder falar aqui. Precisava falar sobre os arrebatamentos que praticamos na residência que estou fazendo essa semana e de como tenho me sentido.
As vezes pesa, é muito cuidado com o que é novo e está sendo gerado. É muita coisa sendo gerada, muita descoberta, muito amor querendo ser compartilhado, muito corpo querendo ser tocado, percebido, mexido. Muita paisagem querendo ser olhada, muito chão querendo ser agarrado, tomado, muita parede querendo ser apoiada, e o cuidado, ainda é maior quando se é desconhecido. É tanto que as vezes acabo esquecendo de outros cuidados bem importantes que deveria estar tendo comigo. Agora ainda tenho cuidado pra não me deixar esquecer mais.

Amanhã vou no médico, consulta marcada. 15:30hs. Estou com medo, achei que fosse hoje. Não queria ter que falar as coisas que vou falar amanhã, mas preciso e devo.

Ontem a consulta foi com a Anita, a analista.

Depois que a Vera se foi ficou tudo mais difícil. Vera era minha médica, desde 1 ano. Ela que me tirou do hospital, me fez voltar pra escola, me viu nos piores estados. Tenho medo e vergonha que alguém me veja como ela me viu, não sei quem mais pode dar conta disso. Entrar em outros consultórios não fez muito sentido durante muito tempo. Ficar em casa também, minha mãe se sentiu muito sobrecarregada, ou algo do tipo. Ainda tem meu irmão, a criança lá de casa que ganhou o nome de criança.
Acho que a Anita sabe da Vera, da minha mãe, do meu pai, do meu irmão,...sabe porque sabe de mim, sabe das novidades e da dor que elas causam.

Desculpa se falo muito vidro, muito caco.

É que estou feliz e sensibilizada com todos, novos e velhos, amores e outros, todos os outros, os que fazem e fizeram parte em nossas salas, de trabalho e de casa.

Vou recolher. Tenho que ir, daqui a pouco teremos novos vidros.
Como a Bel falou, vou me aproximando aos pouquinhos, ou não.

Isadora.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Solilóquio.Criança.Chão.Quarto.

Oi, tudo bem, posso deixar minha blusa aqui?
Sim.
Logicamente, de acordo com meus cálculos, eu tenho uma gripe. No número 78910, não deve ser nada demais. No número 7001, está falando que é uma dor de cabeça normal. Eu vim até o médico para saber o que está acontecendo comigo!
Então, logicamente eu vou te pedir para você calar essa boca.
Desculpa, é que eu estudo muito e sempre digo isso antes de uma consulta.
Certo. Mas podemos começar a consulta?
Sim, certo. Você acha que eu estou mal?
Não.
Você acha que eu vou ficar mal?
Não, não vai.
Mas eu tô passando muito mal e todo mundo na minha escola está falando que eu tô com virose. Tem algo que está me fazendo ficar super mega doente...
Olha, está bom... Senta ai, deixa eu te contar uma coisa...
Pode falar.
Então...
Ah, deixa eu pegar a minha bolsa para te explicar o que aconteceu. Aqui. Começou num dia de aula, assim, comecei a sentir dor de barriga, a espirrar, e a professora disse que de acordo com os cálculos que ela fez, eu estava doente. E o que que aconteceu, ela disse, vai no médico. Ai passaram duas semanas e duas semanas depois a minha mãe me percebeu doente e só duas semanas depois me mandou vir ao médico. Ai ela começou a ler um livro que na página 771 dizia que eu estava muito bem, mas na página 773 eu estava completamente doente. Espera. Eu tô falando. Eu sou criança, você é adulta, você pode falar sempre, eu não.
Sim.
Na livraria que eu vou...
Esse não é o assunto...
Tudo bem, eu estava com virose, gripe suína, eu comecei a passar mal de tanto que a minha mãe falava no meu ouvido. Tudo bem, eu tenho só nove anos e sou muito espertinha...
Eu imagino a dor que você esteja sentindo...
Não! Você não imagina!
Você não imagina a dor de cabeça que eu estou sentindo só por ouvir você falar tudo isso!
Mas eu nem falei um terço do que aconteceu na minha vida! Pior! Estavam me chamando não só de nerd, mas de nerd e nerd doente! Sabe aquelas nerds nojentas que você vê no filme?
Qual é o telefone da sua mãe?
Não liga para minha mãe que ela é muito tagarela!
E o telefone do seu pai?
Não. O meu pai não! O meu pai morreu.
Eu preciso atender as outras pacientes!
Mas você não me atendeu ainda! Eu nem terminei de te contar a minha história... Como eu ia dizendo, eu cheguei aqui no consultório e tinha uma menina com vestido e cabelo comprido e perguntei o que você tá fazendo aqui porque...
Espera um pouco que eu preciso anotar...
Não precisa, é uma história boba...
Então deita ai para eu te consultar!
Eu não posso deitar eu estou te contando uma história, me escuta!

[...]

Diálogo entre a BARBIE MÉDICA e a POLI NERD (Giovana), ambas dando o texto que digitei simultaneamente ao que a minha sobrinha de 9 anos estava inventando. Percebam que a POLI NERD é uma versão piorada dela mesma. Percebam a relação com a mãe e a relação com o pai. Percebam a tagarelice. Percebam que ela estava no chão, dentro do quarto, rodeada de bonecas. Percebam que hoje cedo eu disse para ela: nunca vi você brincando com suas bonecas. Até este momento ela não parou de improvisar essa cena. A médica já ligou para mãe que disse ser mãe da criança porque a filha nasceu de dentro dela. A menina nerd está falando vertiginosamente e a minha sobrinha já percebeu que eu estou prestando atenção, portanto, chega...

[...]

amamos o mesmo Deus

O teatro é difícil em qualquer lugar do mundo mas nós somos deliciosos, nós vamos vencer.

Botão.

Di, me dá de presente um botão de votação para uma violência doída?

obrigado.

domingo, 8 de agosto de 2010

ViDRO

No dia em que o coelho veio ao chão ele caiu sobre a mesa de vidro.
No dia em que elas brigaram na hora do jantar o primeiro barulho depois do silêncio foi o de um copo de vidro se espatifando contra uma das quatro paredes.
Quando eu ganhei esse trio de cicatrizes que costuram a minha mão ao braço esquerdo foi por causa do vidro da porta que eu soquei.
Quando a outra tentou e conseguiu seu suicídio o que eu vi ao chegar no quarto, antes do corpo, antes da morte, fora um pote de vidro tremeluzindo à luz do abajur amarelo.
Era vidro quando deveria ter sido plástico.
Era vidro quando deveria ter sido mentira.

Lembram-se, no início deste ano novo, quando eu abri a janela e o vidro despencou rumo ao chão? Pois então, era vidro ali também. Todo o vidro que colocamos para nos vermos por inteiro e sem reflexos - e que não eram espelhos - pois então, esse vidro todo começou a se retirar, a se abster de nós, eles estão se quebrando voluntariamente, eles estão meio que pedindo - por nós - algum pedaço de intimidade. Alguma parcela de escuridão.

Por isso eu lhes peço: não quero o vidro do box do banheiro. Sinto que ele será o próximo. E não gosto de pensar no sangue escorrendo sob a água do chuveiro. Parece que sempre será preciso mais sangue para colorir toda aquela água.

Eu estou com medo. A tela do televisor é de vidro. Vocês já repararam? No saleiro, no porta-pimenta, no vidro do sabonete, naquela única prateleira? Medo, do porta-retrato. Medo profundo, da garrafa d'água. Queria uma casa toda de plástico. Não. Não é isso.

Era só para dizer que eu quebrei o pote do café. Eu quebrei o pote de vidro no qual guardávamos o pó de café. Bem que eu tentei juntar o pó e colocar num pote plástico. Eu fiz isso. Depois desfiz, porque fiquei com medo de que algum pedaço de vidro pudesse continuar em meio ao pó. Depois pensei que era besteira, porque o vidro ficaria preso no filtro de papel se alguém colocasse o pó para fazer café. Depois não, estava certo, o filtro seria facilmente cortado pelo vidro. Depois fiquei em dúvida sobre quem é mais forte: papel, plástico ou vidro? Mas depois me tranquilizei. Porque faz tempo que a gente não toma um café nessa casa.

Terno

Não me venha dizer sobre amor novamente. Por que isso? Por que você não consegue nos acompanhar sem sofrer? Para com essa coisa de fingir que é forte. Você não é. Que bom que conversamos e chegamos à um consenso. Nosso amor não está, nem nunca estará, em equilíbrio. Foi bom, finalmente,ouvir-te direito, inteiro, e não pelas beiradas. Foi bom sentir o gosto da sua língua afiada de quem não engole mais choro. Eu te disse, as pessoas demonstram-se de formas diferentes. E isso não é ser menos, nem mais. Não é gostar menos, nem mais. Se eu só te digo "estou aqui parada, sem nada, se der, gostaria de te ver", eu estou dizendo, "preciso de você, se você não vier, não sei. Preciso. Rouba minhas roupas e me leva para você". Desculpa. Deve ser a saudade. Fico um pouco fora de controle. Dificil ver seu corpo com outros. Não vi, mas o trem contou coisas. E dói. Dói mesmo. Chego a falar " ai ". De novo. Agora, não venha roubar meu sorriso por te me dado o seu. A escolha foi sua. Eu também me expus, ou você acha que é facil aguentar, feito estante, feito madeira, seu peso sobre mim? É tudo amor. O trem vai voltar e nós vamos perder o jeito com o nosso quarto.

Trem

eu viajei. viajei com um número grande de pessoas levando nas malas certa dosagem de poesia. eu viajei com alguns que já foram meus, com alguns que ainda o são e com outros que pouco fazem de mim. viajei e na estrada pensei sobre muitas coisas. pensei sobre a gente, sobre o ato de viajar, sobre o ato de amar e, principalmente, pensei sobre o ato de levar. estávamos ali para oferecer, viajamos para doar ao outro o que em outro tempo criamos. mas não sei. não sei se o diálogo se deu, na verdade, ainda não sei a forma certa como ele se dá ou não. bom, fui para trocar e voltei com carinho, saudade, novos colegas, novas lembranças, cheiros e mais conhecimento. mas o que deixamos? o que as pessoas que lá ficaram ganharam? eu não sei... foi tudo tão rápido que a gente fica assim: com essa sensação do não saber. fomos, guerreiros que somos, nos violentamos, expomos de forma brutal o que em alguns grita alto, muito alto. mas depois não tivemos tempo de dividir o debate, não tivemos tempo de saber um pouco da outra parte. eu não sei quanro vale uma moeda de um lado só. muito ou pouco dinheiro? escrevemos para o outro e para nós mesmos, mas acredito que quando o outro comenta é que a escrita se faz, nasce...comunica. eu não sei...talvez, esteja apresentando aqui mais uma visão equivocada sobre a sobrevivência da comunicação... mas é que eu precisava muito falar sobre isso. aqui, na nossa casa. aqui onde não preciso de travas na língua!

sábado, 7 de agosto de 2010

RESPONDO

pára de show! não tem ninguém em você. nem mesmo você está consigo. você está sozinha. você não tem jeito.
da ordem dos superconselhos:

comece a dialogar com as pedras.
VIOLENTA, VAI!

nossa. vocês são tão criativos, foi só ele falar que alguém tinha começado a escrever usando ele e ela que a coisa no blog deu uma mudada. me desculpem, não é bem essa a questão, eu só queria dizer o quanto vocês estão disfarçando a vida de vocês nessas ficções gratuitas. sim, é legal, é bom para praticar a escrita, mas afasta de vez tudo o que poderia haver de mais vital em cada um de nós.
calma.
eu diria.
é preciso calma, para se embriagar de vida e ter condição de refazê-la em palavras. eu não acredito nesse monte de eu te amo. eu não acredito em nada. é verdade. mas isso sou eu. eu sou exatamente isso. o que eu peço então a vocês que moram comigo (onde quer que seja). não fiquem deslumbrados com parágrafos-esconderijos. não fiquem assim sofríveis com metáforas desordenadas. nem se percam demais amando as rimas (elas não valem de nada).
eu lhes peço - pela boa comunhão aqui dentro de casa - não digam aquilo que chega a vocês sem palavras. não se espremam para dizer o inexprimível. não digam com "y" o grito que vem em "r". não amenizem o soco passando na face verniz. foi sempre assim. aqui em casa foi sempre assim. nada foi dito na imediatez da vontade. nada foi cuspido na falta de ar. nenhum ódio foi feito soco. nenhum silêncio fez o sangue esfriar. tudo aqui em casa agiu de forma acalmada, apaziguada. a gente sempre disse sobre moral, sobre ética, e não se permitiu ser. em primeiro lugar.
me desculpem. ele disse aquilo e vocês entenderam errado. vocês entenderam que era para copiar o que um dia outro alguém tinha escrito e não é isso. acho que vocês deveriam ter entendido o motivo que fez a tal pessoa escrever aquilo.
resumindo: um dia eu inventei essa ficção do ele e ela porque vocês não estavam lá. um dia eu resolvi escrever que ela tinha brigado com ele e ele tinha feito isso com ela e assim por diante, porque queria chamar atenção para as nossas coisas, para as nossas quinas que de um tempo para cá estavam ficando cada vez mais polidas.
eu fiz metáfora com a nossa condição. eu fiz de nós poesia. e me fudi, porque vocês leram a poesia e a desvincularam da vida. vocês leram ele e ela e não perceberam ser vocês. vocês não perceberam. e agora, se divertem - tísicos - multiplicando eles e elas e nos fazendo ter uma casa repleta de gente vazia. casa repleta de gente. mas vazia de vida.
é isso. me desculpem. as coisas não me fazem escrever o contrário.
e eu não vou - nunca mais - deixar de dizer o que precisa ser dito - para mim -. eu não posso saber de vocês. eu não posso saber d'ele (caio), d'ela (isadora), nem d'ela (patrícia) e nem d'ela outra (dominique).
eu, diogo, registrado no cpf 068800576-40, nascido no dia 15 de outubro de 1987, ex-católico, diabético desde os 6 anos, estudante de direção teatral da ufrj, sem tendências homicidas ou suicidas, com vícios desmoderados, alimentação equivocada, afirmo: NÃO VOU DEIXAR DE DIZER AQUILO QUE PARA MIM É PRECISO.

a bateria do laptop vai acabar.

bloco de notas 06

bloco 06

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Notificação 1.1:

Um novo coelho foi comprado.
você já foi notificado e não sabe ainda.



pra que tanto medo de se machucar? Sempre a mesma coisa.
Na verdade estou colecionando coelhos enquanto espero que você me surpreenda de alguma forma e me tire daqui antes que eu morra de amor.

me beija!

(e se for preciso use a força para meu corpo não esquecer de ser lembrado por suas ações)

imperativo

por que estamos falando assim?
será que já não chega, chegou, irá, chegar!?
Alguma hora
nosso ar vai ficar seco e rarefeito nesse espaço que já não comporta tantas mudanças, tantas transformações rejeitadas, recusadas. Foram brigas e discussões de domingo a quarta. me lembro bem da última:
eu fiquei no chão, sentada chorando e lembramos de anos atrás, do armário, não achei graça, você achou como quem vê de fora.
O problema é que você está dentro de todas as lágrimas.
entre soluços você resolveu que queria saber de mim, me ouvir.
chorei um pouco mais, de emoção dessa vez.
de amor.
gosto quando você resolve conversar entre nós. A partir de mim e não só de você.
Nesses poucos momentos em que você olha pra frente porque eu tô aqui.
coisa de pai e filho ou algo parecido, como deveria ser.
obrigada por esse instante.

lembra.


ei! ei ei! Ninguém disse que assim seria meu amor,
você se enganou com suas próprias estantes quando observava suas mãos pousadas. Você só estava querendo dar sentido pra alguma coisa e eu estava ali parado, logo ali, bem perto, esperando o sinal dos seus dedos, um movimento qualquer. Um latejar qualquer, coisa alguma ou nenhuma. Acabamos assim, desculpe se te machuquei, precisei tomar uma atitude pra te tirar dali, antes que começasse-mos a morder as estantes. Espero que ainda exista algum sentido para meus movimentos em você, podemos recordá-los, todos, meticulosamente se assim preferir. O que importa é que agora, ao te tirar dali, me faço presente, sei que peso nessa casa. Sei que peso nesse tempo, seguimos então. Podemos pintar algumas paredes também, renovar nossos olhares, talvez te faça bem. Sorri pra mim antes de partir.

eu te amo.

Responde.

Não mais. Não há mais possibilidade de conviver , assim, com você. Pensei ser forte. Mas não. Sempre que você vem me embaça os sentidos. Nem sei mais se é uma escolha ter você. Na verdade não é. Eu não queria. Mas era tudo tã inofensivo no início, que eu nem notei. E ser consumida assim, por uma bobagem sua, é complicado. Não quero. Como faço para você sair de mim?

bloco de notas 05

bloco 05 

bloco 06.jpg em sábado, 7 de agosto de 2010 às 10h.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

bloco de notas 04

bloco 04

bloco 05.jpg em sexta, 6 de agosto de 2010 às 10h.
bloco 06.jpg em sábado, 7 de agosto de 2010 às 10h.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

sei lá ou sei.

Eu estou. Eu estava, quero dizer. É tanta coisa que acontece sem ao menos eu tocá-las. Está, estava, tudo tão não-palpável. Eu não sou capaz de controlar paredes crescendo. Não posso. Posso me conter dentro delas sendo sufocada. Ou posso quebrá-las e partir. E sentir saudade de ser doída. Ontem eu tinha cinco livros para ler. Li cinco páginas do primeiro capítulo do terceiro livro (escolhi uma ordem para me organizar). Hoje, faltam-me mil duzentos e quarenta e sete outras páginas. Eu não durarei. Desisti. Isso não me incomoda mais. Ando desistindo de quase tudo mesmo. Por saúde, por tempo, por amor, por não-amor. Ando caminhando mas me esqueço como se caminha direito, por isso preciso das paredes. Dos cômodos. Do sofá velho. Da luz piscando. Do quadro sorrindo. Da carta não lida guardada na gaveta. Da palavra não dita guardada, não sei em qual lugar. Vou reencontrá-las para dizer. Por hora esqueci-me, e não sei que quero lembrar, das palavras.. Queria só estar. Não ter que anotar como eu era feliz. Estou ansiosa para pintar as paredes. Acho que devemos colocar cores outras na casa. Quero rabiscar com o corpo as partes escondidas. Não me digam não. Não aceitarei mais. Não irei só latejar. quero quebrar os porta-retratos.

bloco de notas 03

bloco 03

bloco 04.jpg em quinta, 5 de agosto de 2010 às 10h.
bloco 05.jpg em sexta, 6 de agosto de 2010 às 10h.
bloco 06.jpg em sábado, 7 de agosto de 2010 às 10h.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

entre quatro paredes brancas uma mesa de jantar

bloco de notas 02

bloco 02

bloco 03.jpg em quarta, 4 de agosto de 2010 às 10h.
bloco 04.jpg em quinta, 5 de agosto de 2010 às 10h.
bloco 05.jpg em sexta, 6 de agosto de 2010 às 10h.
bloco 06.jpg em sábado, 7 de agosto de 2010 às 10h.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Acordei…

Não quis estar vivo. Acho que ao mexer a cabeça sobre o travesseiro alguma coisa aconteceu e por um segundo eu não quis mais existir. Depois me repreendi e pensei em uma série de tragédias, para tentar me dizer que a minha vida não estava tão ruim assim. É sempre assim, a gente precisa encontrar um motivo para durar mais um pouquinho. Acordei e tinha sujeira pelo chão do quarto. Acordei e tinha compromissos batendo à porta. Acordei com telefonemas. Fui educado. E ouvi logo ao desligar: quando você acordar eu falo com você. Acordei e quis não ter acordado. Acordei querendo ser sonho, ser pesadelo, ser outra coisa. Acordei e pensei em seringas, em começar mais um dia, em encontrar mais um dia. É verdade. O dia não amanhece ao seu lado. Ele nem vem, por vezes ele não existirá. E você passa o dia inteiro buscando alguma coisa na qual se agarrar e dizer: esse é o meu dia! E ai ele se vai e o dia então se foi, por isso acordei cheio de dúvidas. Acordei pensando em Godot. Acordei pensando em Miranda. Acordei com 3 telefonemas ao mesmo tempo. Acordei com o despertador. Quem deu ao despertador essa autonomia? Quem disse a ele que era permitido gritar ao meu ouvido logo tão cedo? Acordei e não sei. Acordei e continuo não sabendo. Acordei e não vejo a hora de voltar a dormir. Meu deus. Que sensação esquisita. Acordei no passado, no futuro, onde? O que foi que fiz com meu agora? Não o quero mais.

domingo, 1 de agosto de 2010

bloco de notas 01

bloco 01 

bloco 02.jpg em terça, 3 de agosto de 2010 às 10h.
bloco 03.jpg em quarta, 4 de agosto de 2010 às 10h.
bloco 04.jpg em quinta, 5 de agosto de 2010 às 10h.
bloco 05.jpg em quinta, 5 de agosto de 2010 às 10h.
bloco 06.jpg em quarta, 6 de agosto de 2010 às 10h.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Notificação:

Gostaria de informar que um novo coelho foi comprado.
Por favor, não o deixe cair mais uma vez. Por favor.


eu amo vc.
e foi isso.
é por isso.
que nos dou mais essa chance.

me beija.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

mandaram eu me falar mais uma vez

sobre quando eu desisto de colocar em palavras:



artista: Florian Japp

do dia 27 de julho de 2010

-rua
-ladeira estranha
-escada estreita
-porta grande e velha, por isso bonita.
-sala: livros espalhados, empilhados, uma tv aparentemente perdida, mas posicionada milimétricamente, Uma rede laranja, uma mesa de vidro. 5, também milimétricamente posicionados. Vamos tirar uma foto? assim...não sei porquê não tiramos. 3 taças de vinho, uma diferente da outra. Um vinho acabando rápido. Um copo de cerveja. Um copo de água. Coisas. Um avatar do Mc Donald's que acende. Uma pasta vermelha: violenta - editais e projeto...papéis. Um abajur acesso pra criar um clima. Uma piada sobre o Jefferson "Miranda", a cia dos atores está falindo. é isso mesmo. Comentário e conversa sobrea informação. Conversa sobre a situação do teatro brasileiro atual: grupos e companhias. Pesquisa. Memórias, trabalhos passados, traumas e coisas que não passam, o que está no corpo. O corpo sentiu falta. Tentativa. Drama. Debate, grosseria, nos olhamos, não nos olhamos, insistimos. Daquilo que é inevitável. Trocamos, tentamos mais, falamos e falamos, pensamos e repensamos, pra agir. Algumas mudanças bruscas de posição, outras mais leves. O dvd, o melhor e mais bonito, da Marisa Monte passando repetidamente. Cantamos, olhamos, des-olhamos. É isso, não é, pode ser. Agendamento. Gato mia.
-um quarto mais "arrumado", com uma cama de casal, um edredom, armário e outro abajur acesso pra criar um clima
-um banheiro, comprido, com azulejos de florzinha, daquele modelo que não tem igual.
-uma cozinha, uma varandinha com vista pra igreja. fogão, microondas, geladeira com as cervejas dentro, duas garrafas de água que foram levadas e uma com gás. um pote de doce de leite diet, um pacote de bolo(diet), um ovo só na geladeira. Não dá pra fazer o bolo. Duas garrafas bem cafonas e engraçadas de cachaça. Eu comento, Caio comenta.
-Um quarto com frases escritas na parede, mancha de tinta azul, é bonito. Um cartaz escrito: "vazio é o que não falta, Miranda". Livros, livros, mais livros espalhados e empilhados. Um móvel com tudo. Coisas, memórias, cds, dvds. Um computador, com fotos de guanará. Uma câmera passando balões para o computador. Mini dvs, papéis: um jogo de dialogar lendo os escritos da parede. Caio deitado, Isadora deitada, dois livros levados, emprestados. Bolsas e mochilas. Por que tudo tá naquele quarto? Internet.
-uma saída, nenhum bar aberto, um retorno: uma piada, risos(de novo), uma memória

-não pode ficar escrevendo errado no blog;
-estamos sendo plagiados(?);
-mandar e-mail com projeto;
-dia 12. Acho que vamos ter que almoçar juntos;
-levar pesquisa sobre editais e qualquer tipo de ajuda ou fomento para publicação de textos;
-levar o blog e os corpos;
-levar outras coisas que eu já sei que são precisas;
-levar o que é inevitável.
Dominique e Patricia dormem emboladas no edredom na cama do Vinicius. Isadora e Patricia dormem emboladas no edredom na cama do Vinicius. Dominique dorme na colchão bom, Caio no colchão ruim, Diogo em sua cama
Despertador ignorado, ignorado mais uma vez. Patricia e Diogo já se foram. Dominique lê na rede. Eu vou pro sol. Caio dorme e precisa ser acordado.
Amores, tem pão, biscoito, queijo, requeijão, manteiga, leite, café. O importante é deixar tudo fechado, ou algo do tipo. Resumindo.

Eles não sabem...

Eles não sabem, não sabem mais dos pesadelos de madrugada, não sabem das crises de frio. Eles não sabem do peso, nem pensam sobre a altura. Eles não sabem que podem criar menos problemas. Eles não sabem do auê que as crianças fizeram, nem do novo amor. Eles não querem, ou querem demais. Eles vão, eles vem. Eles não, ficam parados aí, estáticos, perdidos, partidos, sem entender o que está acontecendo que as paredes não são mais as mesmas. Eles não sabem quem pintou as paredes. Eles não conseguem se lembrar, não sabem do bolo, do café, só pensam no chá e nem sabem qual é o melhor pra dor de barriga. Eles falam alto demais e não se escutam. Eles não sabem que são escutados, não sabem do estojo manchado de corante rosa, não sabem sobre as cores, os pincéis, os carimbos, as marcas. Eles não sabem que aquela marca sumiu. Eles não sabem que apesar disso o corpo ainda se lembra daquela sétima queda, do machucado já sem ter pra onde crescer. Não sabem sobre o crescimento, mas procuram saber. Eles não sabem quem faz, nem quem pensa, muito menos como pensa. Não sabem da coleção de rolhas e das datas em cada uma delas. Não se lembram mais o porquê das datas nem o que aconteceu em 1989. Não sabem sobre o Caio, a Dominique, o Diogo e a Patricia, que não sabe do Diogo, que não sabe do Caio que não sabe da Dominique. Eles não sabem sobre o esforço, não sabem que eu sei. Eles não sabem que foi uma escolha. Não sabem nada sobre decisões. Eles não sabem que a dor é prazer. Não sabem do pouco dinheiro. Eles não sabem sobre os desdobramentos, sobre as apropriações. Sobre as madrugadas, sobre o que se escreve aqui. Eles não sabem sobre as risadas sem fim, sobre o fim delas, sobre o colo. Não sabem sobre as roupas sujas. Não sabem sobre o dia de páscoa nem sobre o Natal. Não sabem do enterro. Eles não sabem sobrea matriz dramática, sobre esta. Não querem entender o drama. eles não sabem como parar, como variar um pouquinho. Não sabem e querem, querem muito saber e molham todas as paredes por causa disso. Apertam os móveis, mordem as prateleiras, arranham os relógios, e depois olham e desejam ter a casa mais limpa de todas. E não sabem.

minha confusão

AHAHAHAHAH

Muito, muito bom, olha só MEU AMOR, fica tranquilo aí tá!? Dá um tempo, que perseguição! Falar sobre aquilo que falamos???

Sobre aquilo o que??? Falamos sobre tantas coisas que quero ver agora se VOCÊ vai lembrar, "tim tim" por "tim tim" de todos os assuntos, de todos os movimentos, de todos os dramas, de todas as respirações. Fala sério, é muito fácil né....

esse seu comportamento essa sua mania de sempre causar um "rebuliço", criar um clima, já cansou. Me fala alguma coisa que me mova, PRA FRENTE e pára de querer voltar, sempre, voltar, voltar, voltar pra tudo que passou. Simplesmente pra voltar. é o movimento mais fácil as vezes. O trajeto já está no corpo.

Até o de ontem mesmo, já pode ter se esgotado sabia!? A gente se acomodou e não cria uma nova brincadeira, não apaga as luzes e tenta agarrar uma memória nova, no escuro.
E não é poesia não, não pense que sou que nem você, é fato e você sabe disso.

Mas tudo bem se é o que você quer eu também quero, vamos falar sobre o que aconteceu ontem

PAUSA

NÃO ENTENDO PORQUE TODOS DEMORAM A ESCREVER ALGUMA COISA. SERÁ QUE VOCÊS REALMENTE ACHAM QUE NÃO ESCREVER SOBRE O QUE ACONTECEU VAI AMENIZAR O NOSSO TAL ENCONTRO? O NOSSO JANTAR? A NOSSA REUNIÃO?

SINCERAMENTE. NÃO NASCEMOS PARA TER UMA FAMÍLIA.
SÓ LEMBRO DE DUAS COISAS:
CHÁ. E PERCEVEJOS.

terça-feira, 27 de julho de 2010

da sabedoria que é o não saber

eles não sabem da poeira colada aos móveis. não sabem das farpas que entraram nas minhas mãos. não sabem dessa dor incessante na minha coluna. não sabem dos joelhos no chão, nem das esponjas rasgadas. não sabem da areia, dos cabelos, das unhas encontradas. eles não sabem nada. nem do cupim sob a cama. nem do cupim na janela. não sabem dos biscoitos apertados para dentro do pote. não sabem da escova de limpar o vaso sanitário. não sabe de veja, de alcóol, nem de sapólio. não sabem de desinfetante nem de dvds espalhados. eles não sabem absolutamente de nada. não estão aqui. estão para chegar. por isso não sabem. da luz contra a parede para criar clima. das invenções com intuito de decorar. de animar. de criar intimidade. não sabem dos cheiros escolhidos, das toalhas limpas nem da quantidade de lixo que se produzi hoje ao se fazer esta faxina. eles não sabem de nada disso. nem do meu cansaço. nem da escassez de tempo nem do despertador. mas espero que notem. espero que notem. e lavem as louças, antes de sair, que levem com eles os talheres de plástico e que reparem nas paredes. elas estão cheias de buracos. isso é felicidade? isso é família? que noção é essa de união? alguém precisava hoje nos ver assim reunidos. eu tenho medo do que possa ser assim outra vez esta reunião de família.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Reunião na Sala de Jantar

presentes: todos.

levar: toalha e fronha.

ter: dinheiro. o fogão está ruim e vamos pedir uma pizza. caneta, papel e espaço.

preparar: gelo e café.

beijos em todos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

hello

Tá difícil e você não vê que eu estou te usando pra dar sentido para as minhas crises.

Temos um problema.

?

Se o tempo é o melhor remédio como eu faço para aumentar a dose?

sábado, 10 de julho de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sonhei que as paredes se beijavam para matar a saudade de nossos corpos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Mesa

Eu vou comprar uma flor para enfeitar a casa. Para ver se a gente começa a se olhar. E a berrar um com outro. OU COM ELA.  Para ver se alguém se afeta com o telefone tocando. Com o outro ali lendo. Com aquela ali batendo. Com a outra chorando. Com o outro berrando. Com a fota na parede. Com a falta de sentir falta. Vamos ver se alguem respira no outro.

domingo, 27 de junho de 2010

me transborda

è muito mais que isso meu amor...
você deveria parar de ficar prestando atenção nesses ratos que te amedrontam. São coisas da sua cabeça. Você tinha um coelho nas mãos e deixou ele cair. As crianças ainda estão em cima dos móveis, fazendo um auê. Você não vai fazer nada?
Já te falei
Não quero jogar a responsabilidade pra você, mas é que eu já estou muito ocupada, tentando dar algum sentido pra todo esse pó acumulado em você, pra essas fotos espalhadas pela casa. Sempre soube que você não gostava de rosa, mas vou pintar todas as paredes, a música, que você acha chata, vou colocar, não quero mais saber, porque sei, que na verdade, minhas ações ainda vão fazer de seu corpo reação.

Nossos impulsos, esses vão ser lembrados...

...e você precisa disso pra não ir agora.

Precisa se lembrar que ainda não é a hora.
Que não foi.

É que pra mim na verdade não importa. Gosto de ver você aí, parado, suspenso.
Pra mim você está mais vivo do que nunca, mas sei que é difícil, muita coisa...

esse barulho.
Espero que sirva pra alguma coisa, esse afeto todo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Rato

Eu falei gritando para me convercer de que meus erros são escutado e debochados.
Eu escrevi nas paredes para me lembrar de não esquecer as letras e as fôrmas. Eu escrevi na parade para romper as formas.
Eu comprei temperos para sujar o fogão. E piorar a gastrite.
Eu queria que afeto não necessitasse ser dor. Mas ainda choro quando te corto.


Eu estou procurando essas fotos pela casa. Esconda-as de mim. Antes que eu me enxergue pó.

ACHISMOS

teve um dia lá em casa que ela resolveu achar que se escrevesse qualquer coisa na parede ia se fazer passar por inteligente. a outra achou que ter sal, vinagre, azeite e aceto balsâmico a faria parecer uma boa cozinheira. o outro calhou de achar que se falasse gritando as pessoas acreditariam em tudo o que dizesse. a outra, coitada, achou que demonstar afeto era ser capaz de marcar a pele do outro, ainda que a pancadas. eu achei, um dia, que colocar foto de gente morta espalhada pela casa fosse amenizar o medo que tenho da vida. o medo que tenho de estar vivo, de fazer parte e de poder ser assim – abruptamente – reduzido a pó: a única coisa que realmente têm sido encontrada aqui dentro de casa. por todos os cômodos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

maia

\\

Gostaria de começar pela incerteza. Parece-me curioso observar um mesmo movimento visto sob dois ângulos distintos. Ou seja, por mais de uma vez, o ator e encenador russo Meyerhold foi inquirido a negar seus princípios enquanto cidadão e artista. No entanto, não me parece equivocado dizer que ele o fez, que negou a si mesmo, por repetidas vezes. Mas, faço tal afirmação olhando a questão por outro ponto de vista. Pois aquele mesmo que nos tribunais soube resistir e defender suas opiniões, nas salas de ensaio soube ainda mais, pois se permitiu reconhecer mutante, capaz negar seus princípios e evocar novas maneiras de estar no mundo e de fazê-lo.

O mesmo artista que no início de sua carreira criticou uma dada maneira de se fazer arte, num outro momento de sua jornada o foi porta-voz da mesma. Toda essa instabilidade, toda essa incerteza, sugere uma postura inquieta e sem pudor frente à diferença. Saber amar e odiar, ao mesmo tempo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

MANIFESTO AO VERBO CASA

quando um dia eu te disser vamos casar, será antes preciso que tenhamos a clareza a seguir:

casar vem do verbo casar, ou seja, criar casa

quando eu te chamar para casar comigo
é preciso que entenda que minha casa terá dois andares
cômodos vastos e claustrofóbicos
que terá piscina
área ventilada
toldo e horta
passagens secretas
e esconderijos.

quando um dia eu vier a te dizer o tal casa comigo
eu estarei querendo um dia talvez te dizer
vamos amar a ardósia
amar o cimento
amar a pátina
a decoupage
amar vamos o verniz
a tinta a tinta até secar
vamos amar pelos cantos
aos suspiros
aos suspiros
casar demora tempo para solidificar.

ás vezes é preciso dar duas mãos, mas

quando um dia eu por acidente quem sabe vier lhe falar sobre casar
não se assuste, eu já te adianto
vai ser tudo parcelado.
uma coisa de cada vez.
a cada mês nova surpresa.
e haverá possibilidade de prenda.
haverá também fome. haverá demência.
sim,
um dia desses depois de ter-lhe falado em casar
baterá a nossa porta um carteiro
e dentro da carta
haverão rosas
de papel
para lembrarmos que sim
é preciso aceitar a fauna abrupta
que floresce a cada nosso encontrar
a rosa de crepom no envelope amassada
estará nos dizendo
esse tremor
esse descontrole
ele pertence a essa morada.

quando eu disser casar
quererei dizer quase nada
quererei apenas lhe fazer entender
que se pode se querer lançar do alto de uma sacada
sim\
mas que a grama também pode ser fofa
ou seja
nem sempre cada ação resultará em morte ou fim
sim, meu amor
quando eu te digo sobre casar
quer dizer muito mais do que o barulho da obra
quer dizer também contemplação.

pára um pouco. olha.
pelo buraco da fechadura. olha.
às vezes dentro do nosso casar
eu também precisarei me esconder.
você me entende?

outro dia eu te verei resvalando pela varanda
caminharás sem rumo mas tão confiante
eu saberei ficar dentro atrás da cortina e apenas a te ver
quererei romper pela porta e gritar
mas penso
você se esconderá ao ar livre.

e tem dessas coisas isso do casar, não?

por isso temos porta-chaves.

para podermos entrar e sair.
entrar e ficar.
sair e te esquecer.
sair e me acabar.
sair. como quem fica.
ficar. como quem sai.

fora longe distante não importa,
eu quis dizer

a nossa história terá sido tão mais viva
quanto mais tivermos aberto
e fechado
portas.

na casa resta...

É que agora parei de bater a cabeça na parede e ando pelo chão da CASA pra ver se chama um pouco mais sua atenção. SUA. É que na casa eu preciso saber que posso me machucar mas você vai ver, vai saber, vai se interessar pelas minhas feridas e pelos meus roxos, sem frescura, do jeito que só você sabe. Na CASA eu preciso saber que posso ser apontada, questionada, mas que só nela algumas respostas serão criadas, inventadas. Preciso saber que na CASA você vai gritar comigo e eu vou poder em seguida dizer "meu amor...", preciso saber que aqui, na CASA, nossos corpos se percebem, mesmo quando estão um pouco mortos eles se reconhecem. Um pouco de conforto, algumas alegrias, uma espécie de amparo. Aqui, na CASA, saber que não é a toa. Preciso, aqui, na CASA falar sobre o dia lá fora. Preciso aqui lembrar que estou em CASA. Na CASA preciso poder me descolar um pouco do caos e lembrar um como foi, a primeira vez que pintamos nossas paredes. Aqui na CASA eu só preciso saber que tem você, que é casa, que é espaço, espaços, em todos os sentidos. Preciso de todos os espaços, entrar em todos e deixar minhas marcas. Preciso saber que na CASA, pelo menos aqui eu vou poder responder ou não TODAS as suas perguntas. Na CASA eu preciso sentir você nos meus movimentos, só isso basta. Saber que na casa eu vou poder te agradecer do jeito que VOCÊ merece. Vou poder falar sobre amor, te odiar e te adiar quando preciso, sem julgamento. Vou poder julgar e talvez me arrepender. Na CASA vou enlouquecer e saber que seus braços restaram ali pra me segurar. Na CASA o abraço. Preciso saber, na CASA, exatamente onde fica a porta. NOSSA. Porque na CASA, preciso saber que ao passar pelo entre, pelo não lugar, vou ter onde pousar deixando todos esses rizomas pra trás se assim for necessário. A porta está ai pra isso eu sei, só falo porque é CASA, mas por favor, não saia agora.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Dentro da casa

Hoje não vi ninguém
Ontem não ouvi ninguém.
Anteontem não falei ninguém

Faz tempo que eu não esbarro com as paredes.


Saudade despedaça.

Ri,
como rio das coisas que me doem.


Abraços

dentro de casa:

"é quase um ritual isso já.
hoje eu vi o caio e a isadora discutindo.

me remeti ao dentro de casa.
me fez mal.
ri,

como rio das coisas que me despedaçam.

bjos!"

terça-feira, 8 de junho de 2010

se chama..............

caos.

o tema do mês.

eu não estou aguentando mais.

próximos movimentos:
tentar ser menos
tentar ser simples
tentar cancelar compromissos
tentar não tomar a frente
tentar não tomar a frente
quero ser leigo
laico
legível como a multidão
para tentar
somente assim enfim
não morrer
precocemente.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

meio

ôh meu deus, por que? Por que é que a gente se permitiu chegar até aqui? Agora estamos todos expostos, machucados, desmotivados. É isso mesmo, não serviu pra nada? Foi só pela experiência do sonhar!? Tá, não vamos pensar "porque" foi, apenas foi. E agora, o que a gente faz com isso tudo? Pode amassar e jogar fora, esquecer, viver sem. Sem qualquer resquício de memória também, porque se for pra jogar fora tem que ser tudo. Ou a gente insiste mais um pouquinho e machucados, damos as mãos e nos reconhecemos, voltamos a nos afetar. Pode ser? Não vai, não responde agora, sua resposta pode ser fatal dependendo de qual for. E o pior de tudo é que sei que dependo dela. Não quero que você suma da minha vida tá!? Acho que você é a única pessoa que não vou suportar nem perdoar uma atitude dessas. Não vou nem deixar na verdade, mas não esquece de novo que eu não posso tomar cerveja. Em breve vou mandar um e-mail e vamos ver se saímos do meio.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Desculpa,

Vocês estão brigando. Sinto. Brigar hoje já não faz mais sentido. Eu queria espaço, queria tempo, queria saber o que faço com o meu sentimento. Eu estou apaixonado e a CASA quer me colocar na rua. Ela não entende que eu sou devagar, tenho medo de me expor e me exponho pelas beiradas. A CASA não me dá uma ajuda, não me serve um café, não se preocupa mais comigo e nem com o meu corpo. Eu não sei o que fazer e a CASA caga para isso. Eu não sei se conto tudo a ele, só para ele. Não sei se conto para um amigo, só para um. Não sei se conto para uma amiga, só para uma. Não sei. Sinto-me com 13 anos de idade. Como se estivesse, mais uma vez, vivendo minha primeira paixão. Mas não. Sou alguém de 21 anos de idade que ainda não aprendeu a lidar com sentimentos da ordem do gostar, gostar muito e amar. Não aprendeu a separar as coisas e, de repente, encontra-se perdido. Tudo misturado. VidaObraTrabalhoAmizadeCorpo. Tudo junto, integrado. Eu gosto. Mas não sei se deveria continuar agindo dessa forma. Ás vezes, penso que as coisas são simples e que a revelação deste sentimento não implicaria em mudança alguma. Outras, penso em tempestade, discussão, mal entendido e por ai vai. Não sei, de fato, o que fazer e, neste momento, não quero dividir com vocês o meu sentimento. Mas minha dúvida, meu medo do abismo, minha insegurança em usar biquíni em dias nublados. Só isso.

grito para Dominique

Dominique,
não me venha com essa pergunta, faça-me o favor. A possibilidade da minha dor não é possibilidade, eu sinto dores que não te incluem, muitas outras e não te incluem mesmo. Porque você nem sabe. Você nem me sabe. Agora vem com essa pergunta!? inacreditável, sua capacidade de complicar as coisas, arrumar problema, onde não tem. Dor é dor, todo mundo sente, tem até médico pra isso sabia!? Agora, não me venha com esse papo meu amor...é por isso que jogo, JOGO SIM, a responsabilidade pra cima de você. Mas você não me conhece né, porque se olhasse um pouco pra mim, ia ver o quanto sei que ela é minha também, a responsabilidade. Mas é IMPOSSÍVEL, eu ter a sensação de que ela fica muitas vezes só na minha mão, agora, você me desculpa, mas não dá, não dá pra eu te ouvir, te perceber, sem ser percebida, respondida e ainda ficar com a responsabilidade toda pra mim. Responsabilidade entre 2 não é tomar uma decisão quando a coisa ficou feia, isso é IRRESPONSÁVEL Dominique. Não lidar com o que existia de concreto, que você também ajudou a construir. Se você ficou no meio agora o problema é SEU. Isso, estou gritando mesmo, eu grito você sabia!? Não sabia né, mas eu grito, sou xiliquenta, tenho um monte de defeitos que você nunca soube, porque sou humana e andei querendo evoluir, mas queria evoluir junto. Só que você não né, ficou parada aí, no meio, cavando a sua cova. Só não quero ver você remexendo nela, isso me dói também sabia!? Algum dia as pessoas precisam agir. Algum dia as pessoas precisam gozar, com medo ou sem medo. Isso serve pra mim também tá, não pensa que eu estou tirando o corpo fora não. Muito pelo contrário. Bom, estou gritando sim, entendo tudo que você fala, só não assino em baixo. Talvez você devesse ter ouvido eu gritar antes. Que horror, chegar nesse ponto, com tão pouca ação de fato. E não pense que da próxima vez, alguém, alguma outra pessoa que estiver dentro da situação como eu estive vai entender um pouco melhor. Não vai. Porque você está se colocando sozinha, no meio. Repito Dominique: se volta pra você pra poder se voltar pra fora, achar suas saídas, seus espaços. O tempo tá passando e você não sabe até onde vai chegar. E NÃO ME VENHA COM XURUMELAS!! FAÇA-ME O FAVOR, VOCÊ JÁ É ADULTA. CHEGA.

domingo, 23 de maio de 2010

tudo se modifica. UMA HORA OU OUTRA.

Porque quando você diz isso, você joga em mim a responsabilidade por nós dois. Não é que eu preferisse não saber. Mas eu não sei o que fazer com isso. SEI. Então. A gente chegou aqui. Exatamente aqui, no limite do entre. QUANDO A GENTE TA NO MEIO, A GENTE VAI PARA FRENTE OU VAI PARA TRÁS? Me pergunto. Eu não mais posso estar aqui, sem saber. TÁ. Me ajuda. Me leva para frente com você ou me diz que é melhor eu voltar. Não me deixa te ferir. Porque é assim. É preciso que você saiba. Nesse lugar que eu to, eu vou acabar te magoando. ENTÃO FOGE.Vai para frente ou para trás. Fica comigo e me convence que isso é o certo. Eu queria " permitir o gozo, sem medo". Essa coisa de ser afeto , de afetar e afetar-se. Mas o que que eu faço com a possibilidade da sua dor?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

rapidinho,

COMO ASSIM??? EM 1º PLANO??? O QUE É, O 1º PLANO!!?? OLHA PRA VOCÊ. OLHA O QUE VOCÊ FEZ COM TODO ESSE 1º PLANO. FOI TUDO PRO LIXO. LIXO. PRA QUE, CRIAR REGRAS, LAÇOS, PERCEBE!? FOI PRO LIXO, ISSO QUE VOCÊ FALA. MEU DEUS, QUE HORROR. QUER DIZER QUE NADA AGORA PODE SER MAIS MODIFICADO!? POR QUE "1º PLANO" ENTÃO, HEIM!? HEIM!? NÃO EU NÃO ESTOU GRITANDO, NEM FAZENDO AMEAÇAS, NEM TE COLOCANDO CONTRA A PAREDE. EU TENHO MAIS O QUE FAZER. FAÇA-ME O FAVOR....OLHA, É SIMPLES, BEM MAIS SIMPLES: DEPOIS NÃO DIZ QUE EU NÃO AVISEI, MAS TUDO SE MODIFICA, UMA HORA OU OUTRA, VAI PRO LIXO, PRA TERRA, COM SORTE VIRA ADUBO.