domingo, 14 de março de 2010

meu passado me ordenha

disse a vaca ao saber que a partir daquele dia, seus leites seriam dispensados.

perguntou ao querido boi, seu macho.

o que fazer?

se vira.

a culpa é de quem?

da soja.

quem é soja?

uma piranha qualquer.

e eu não sou melhor?

você?

sim. não sou?

entre você e um corrimão, eu prefiro o corrimão, porque ele não tem sentimentos.

como?

come.

e comeu o resto de grama que havia para comer.

ofendida, ainda, com a grama reluzindo na dentição, perguntou ao macho.

o que é que ela tem que eu não tenho?

ela quem, mulher?

a soja.

o que é que ela tem que você não tem?

sim. pois diga.

bom, o que ela tem eu não sei. mas o que você tem que ela não tem eu saberia dizer.

e o que é? perguntou sorrindo por dentro. pré-orgulhosa.

colesterol. e gordura.

escroto.

você disse alguma coisa?

não.

fique tranquila. um dia, quem sabe, serás uma vaca mecânica.

nem que a Vaca tussa.

quem?

a Vaca. a grande Vaca nossa Deusa Musa.

que que tem?

nem que ela tussa.

ela está gripada?

aff.

que foi?

eu sou vaca orgânica. não mecânica. essa onda de soja não vai pegar.

é. só que pelo o seu leite é que não vão mais pagar.

e morreu pobre, usada e com as tetas machucadas. de tanto ser sugada, chupada, volvida e molestada.

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