domingo, 27 de junho de 2010

me transborda

è muito mais que isso meu amor...
você deveria parar de ficar prestando atenção nesses ratos que te amedrontam. São coisas da sua cabeça. Você tinha um coelho nas mãos e deixou ele cair. As crianças ainda estão em cima dos móveis, fazendo um auê. Você não vai fazer nada?
Já te falei
Não quero jogar a responsabilidade pra você, mas é que eu já estou muito ocupada, tentando dar algum sentido pra todo esse pó acumulado em você, pra essas fotos espalhadas pela casa. Sempre soube que você não gostava de rosa, mas vou pintar todas as paredes, a música, que você acha chata, vou colocar, não quero mais saber, porque sei, que na verdade, minhas ações ainda vão fazer de seu corpo reação.

Nossos impulsos, esses vão ser lembrados...

...e você precisa disso pra não ir agora.

Precisa se lembrar que ainda não é a hora.
Que não foi.

É que pra mim na verdade não importa. Gosto de ver você aí, parado, suspenso.
Pra mim você está mais vivo do que nunca, mas sei que é difícil, muita coisa...

esse barulho.
Espero que sirva pra alguma coisa, esse afeto todo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Rato

Eu falei gritando para me convercer de que meus erros são escutado e debochados.
Eu escrevi nas paredes para me lembrar de não esquecer as letras e as fôrmas. Eu escrevi na parade para romper as formas.
Eu comprei temperos para sujar o fogão. E piorar a gastrite.
Eu queria que afeto não necessitasse ser dor. Mas ainda choro quando te corto.


Eu estou procurando essas fotos pela casa. Esconda-as de mim. Antes que eu me enxergue pó.

ACHISMOS

teve um dia lá em casa que ela resolveu achar que se escrevesse qualquer coisa na parede ia se fazer passar por inteligente. a outra achou que ter sal, vinagre, azeite e aceto balsâmico a faria parecer uma boa cozinheira. o outro calhou de achar que se falasse gritando as pessoas acreditariam em tudo o que dizesse. a outra, coitada, achou que demonstar afeto era ser capaz de marcar a pele do outro, ainda que a pancadas. eu achei, um dia, que colocar foto de gente morta espalhada pela casa fosse amenizar o medo que tenho da vida. o medo que tenho de estar vivo, de fazer parte e de poder ser assim – abruptamente – reduzido a pó: a única coisa que realmente têm sido encontrada aqui dentro de casa. por todos os cômodos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

maia

\\

Gostaria de começar pela incerteza. Parece-me curioso observar um mesmo movimento visto sob dois ângulos distintos. Ou seja, por mais de uma vez, o ator e encenador russo Meyerhold foi inquirido a negar seus princípios enquanto cidadão e artista. No entanto, não me parece equivocado dizer que ele o fez, que negou a si mesmo, por repetidas vezes. Mas, faço tal afirmação olhando a questão por outro ponto de vista. Pois aquele mesmo que nos tribunais soube resistir e defender suas opiniões, nas salas de ensaio soube ainda mais, pois se permitiu reconhecer mutante, capaz negar seus princípios e evocar novas maneiras de estar no mundo e de fazê-lo.

O mesmo artista que no início de sua carreira criticou uma dada maneira de se fazer arte, num outro momento de sua jornada o foi porta-voz da mesma. Toda essa instabilidade, toda essa incerteza, sugere uma postura inquieta e sem pudor frente à diferença. Saber amar e odiar, ao mesmo tempo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

MANIFESTO AO VERBO CASA

quando um dia eu te disser vamos casar, será antes preciso que tenhamos a clareza a seguir:

casar vem do verbo casar, ou seja, criar casa

quando eu te chamar para casar comigo
é preciso que entenda que minha casa terá dois andares
cômodos vastos e claustrofóbicos
que terá piscina
área ventilada
toldo e horta
passagens secretas
e esconderijos.

quando um dia eu vier a te dizer o tal casa comigo
eu estarei querendo um dia talvez te dizer
vamos amar a ardósia
amar o cimento
amar a pátina
a decoupage
amar vamos o verniz
a tinta a tinta até secar
vamos amar pelos cantos
aos suspiros
aos suspiros
casar demora tempo para solidificar.

ás vezes é preciso dar duas mãos, mas

quando um dia eu por acidente quem sabe vier lhe falar sobre casar
não se assuste, eu já te adianto
vai ser tudo parcelado.
uma coisa de cada vez.
a cada mês nova surpresa.
e haverá possibilidade de prenda.
haverá também fome. haverá demência.
sim,
um dia desses depois de ter-lhe falado em casar
baterá a nossa porta um carteiro
e dentro da carta
haverão rosas
de papel
para lembrarmos que sim
é preciso aceitar a fauna abrupta
que floresce a cada nosso encontrar
a rosa de crepom no envelope amassada
estará nos dizendo
esse tremor
esse descontrole
ele pertence a essa morada.

quando eu disser casar
quererei dizer quase nada
quererei apenas lhe fazer entender
que se pode se querer lançar do alto de uma sacada
sim\
mas que a grama também pode ser fofa
ou seja
nem sempre cada ação resultará em morte ou fim
sim, meu amor
quando eu te digo sobre casar
quer dizer muito mais do que o barulho da obra
quer dizer também contemplação.

pára um pouco. olha.
pelo buraco da fechadura. olha.
às vezes dentro do nosso casar
eu também precisarei me esconder.
você me entende?

outro dia eu te verei resvalando pela varanda
caminharás sem rumo mas tão confiante
eu saberei ficar dentro atrás da cortina e apenas a te ver
quererei romper pela porta e gritar
mas penso
você se esconderá ao ar livre.

e tem dessas coisas isso do casar, não?

por isso temos porta-chaves.

para podermos entrar e sair.
entrar e ficar.
sair e te esquecer.
sair e me acabar.
sair. como quem fica.
ficar. como quem sai.

fora longe distante não importa,
eu quis dizer

a nossa história terá sido tão mais viva
quanto mais tivermos aberto
e fechado
portas.

na casa resta...

É que agora parei de bater a cabeça na parede e ando pelo chão da CASA pra ver se chama um pouco mais sua atenção. SUA. É que na casa eu preciso saber que posso me machucar mas você vai ver, vai saber, vai se interessar pelas minhas feridas e pelos meus roxos, sem frescura, do jeito que só você sabe. Na CASA eu preciso saber que posso ser apontada, questionada, mas que só nela algumas respostas serão criadas, inventadas. Preciso saber que na CASA você vai gritar comigo e eu vou poder em seguida dizer "meu amor...", preciso saber que aqui, na CASA, nossos corpos se percebem, mesmo quando estão um pouco mortos eles se reconhecem. Um pouco de conforto, algumas alegrias, uma espécie de amparo. Aqui, na CASA, saber que não é a toa. Preciso, aqui, na CASA falar sobre o dia lá fora. Preciso aqui lembrar que estou em CASA. Na CASA preciso poder me descolar um pouco do caos e lembrar um como foi, a primeira vez que pintamos nossas paredes. Aqui na CASA eu só preciso saber que tem você, que é casa, que é espaço, espaços, em todos os sentidos. Preciso de todos os espaços, entrar em todos e deixar minhas marcas. Preciso saber que na CASA, pelo menos aqui eu vou poder responder ou não TODAS as suas perguntas. Na CASA eu preciso sentir você nos meus movimentos, só isso basta. Saber que na casa eu vou poder te agradecer do jeito que VOCÊ merece. Vou poder falar sobre amor, te odiar e te adiar quando preciso, sem julgamento. Vou poder julgar e talvez me arrepender. Na CASA vou enlouquecer e saber que seus braços restaram ali pra me segurar. Na CASA o abraço. Preciso saber, na CASA, exatamente onde fica a porta. NOSSA. Porque na CASA, preciso saber que ao passar pelo entre, pelo não lugar, vou ter onde pousar deixando todos esses rizomas pra trás se assim for necessário. A porta está ai pra isso eu sei, só falo porque é CASA, mas por favor, não saia agora.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Dentro da casa

Hoje não vi ninguém
Ontem não ouvi ninguém.
Anteontem não falei ninguém

Faz tempo que eu não esbarro com as paredes.


Saudade despedaça.

Ri,
como rio das coisas que me doem.


Abraços

dentro de casa:

"é quase um ritual isso já.
hoje eu vi o caio e a isadora discutindo.

me remeti ao dentro de casa.
me fez mal.
ri,

como rio das coisas que me despedaçam.

bjos!"

terça-feira, 8 de junho de 2010

se chama..............

caos.

o tema do mês.

eu não estou aguentando mais.

próximos movimentos:
tentar ser menos
tentar ser simples
tentar cancelar compromissos
tentar não tomar a frente
tentar não tomar a frente
quero ser leigo
laico
legível como a multidão
para tentar
somente assim enfim
não morrer
precocemente.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

meio

ôh meu deus, por que? Por que é que a gente se permitiu chegar até aqui? Agora estamos todos expostos, machucados, desmotivados. É isso mesmo, não serviu pra nada? Foi só pela experiência do sonhar!? Tá, não vamos pensar "porque" foi, apenas foi. E agora, o que a gente faz com isso tudo? Pode amassar e jogar fora, esquecer, viver sem. Sem qualquer resquício de memória também, porque se for pra jogar fora tem que ser tudo. Ou a gente insiste mais um pouquinho e machucados, damos as mãos e nos reconhecemos, voltamos a nos afetar. Pode ser? Não vai, não responde agora, sua resposta pode ser fatal dependendo de qual for. E o pior de tudo é que sei que dependo dela. Não quero que você suma da minha vida tá!? Acho que você é a única pessoa que não vou suportar nem perdoar uma atitude dessas. Não vou nem deixar na verdade, mas não esquece de novo que eu não posso tomar cerveja. Em breve vou mandar um e-mail e vamos ver se saímos do meio.