quarta-feira, 11 de agosto de 2010

carta sobre os dias de hoje

Entrei aqui hoje porque senti necessidade de continuar a dar sentido pra toda aquela vontade da qual falamos naqueles dias, mas dessa vez foi ainda mais natural e inevitável esse movimento todo, da vontade, do acesso, das palavras que escrevo aqui. Precisava falar um pouco mais com vocês, ouví-los. Pode não parecer, mas estou precisando muito de vocês. Ela continua, a vontade, e vem se espalhando por novos corpos que tem compreendido o egoísmo do meu e me deixado compreender também e aceitar e ser aceitada, tudo isso. Tenho me aproximado um pouco mais e isso me assusta, ainda mais quando vejo que agora tenho medo de perder.

Ontem fizemos o abraço. Foi difícil, foi difícil e foi bom.
Difícil porque sabia que dessa vez outra pessoa ia me tirar dos braços da Dominique. Porque sabia que o Caio não ia ganhar todos os meus abraços merecidos e desejados.

mas foi mais ainda difícil porque queria muito naquele momento a Patricia e o Diogo, sentados ali, naquele canto olhando pra mim. Queria olhar pra eles também. Queria que eles estivessem vendo o novo espaço que fizemos. Era um retângulo, a platéia toda sentada como em corredor. Ficou bonito. O abraço pôde transbordar, como fazemos normalmente quando estamos juntos.

Nossa, como foi bom(estou com saudade e com vontade), mas como foi difícil. Isso é nítido, doeu mas podia ter doído mais. Pra vocês posso falar isso. Teria sido ainda melhor assim.
Mas na verdade acho que não daria mesmo pra sentir mais dor sem vocês ali. Até tinha bastante gente. Era bom saber que quando eu saísse dos braços da Dominique teriam outros, alguns outros que já são amores e já fazem parte, dessa forma, das nossas formas. Amores esses, espalhados entre outros abraços, que poderiam dividir essa dor comigo. Em algum momento quis só os amores ali, queria me expor por completo no abraço, desfazer, refazer, correr, puxar e empurrar, suar, tudo junto e acompanhado, sem muita preocupação ou julgamento, mas tinham outros.

No fundo tudo isso aparece agora simplesmente porque já dói muito o medo de perder os braços em que nos encontramos depois do choque, já dói tanto essa dependência louca, esse conforto desconfortável, o tempo que não existe mas passa muito rápido, toda essa duplicidade, construída através de tanta repetição e persistência. Já dói, e só de pensar também na possibilidade da dor que o medo do novo causa, o medo de não saber e de ter que lidar assusta.
Uma das meninas(ainda não importa o nome) que encontrei no meio do caminho, a outra que não era amor, nem faz parte, ficou presa na minha roupa pelo aparelho, tivemos que usar uma tesoura. Era a Vanessa.

Tenho medo do novo, só isso, medo do útero, pronto para fazer nascer. Tenho muito receio, duvido, mas continuo amando.
Isso pode ser considerada uma postura de adulto?
Espero que não, estávamos muito adultos Caio, essa tal "energia do adulto" é muito forte, pesa e não dá pra achar que é possível ter o controle de tudo. Na verdade você que me mostrou isso. Não sei se os outros adultos perceberam isso, mas senti falta um pouco do choro das crianças, os risinhos, os xiliques, toda a loucura e fragilidade sincera. Gosto daquele auê feito entre nossos amores, compatilhado com quem faz parte e dividido com quem vem chegando.

Fico feliz por falar isso, feliz por poder falar aqui. Precisava falar sobre os arrebatamentos que praticamos na residência que estou fazendo essa semana e de como tenho me sentido.
As vezes pesa, é muito cuidado com o que é novo e está sendo gerado. É muita coisa sendo gerada, muita descoberta, muito amor querendo ser compartilhado, muito corpo querendo ser tocado, percebido, mexido. Muita paisagem querendo ser olhada, muito chão querendo ser agarrado, tomado, muita parede querendo ser apoiada, e o cuidado, ainda é maior quando se é desconhecido. É tanto que as vezes acabo esquecendo de outros cuidados bem importantes que deveria estar tendo comigo. Agora ainda tenho cuidado pra não me deixar esquecer mais.

Amanhã vou no médico, consulta marcada. 15:30hs. Estou com medo, achei que fosse hoje. Não queria ter que falar as coisas que vou falar amanhã, mas preciso e devo.

Ontem a consulta foi com a Anita, a analista.

Depois que a Vera se foi ficou tudo mais difícil. Vera era minha médica, desde 1 ano. Ela que me tirou do hospital, me fez voltar pra escola, me viu nos piores estados. Tenho medo e vergonha que alguém me veja como ela me viu, não sei quem mais pode dar conta disso. Entrar em outros consultórios não fez muito sentido durante muito tempo. Ficar em casa também, minha mãe se sentiu muito sobrecarregada, ou algo do tipo. Ainda tem meu irmão, a criança lá de casa que ganhou o nome de criança.
Acho que a Anita sabe da Vera, da minha mãe, do meu pai, do meu irmão,...sabe porque sabe de mim, sabe das novidades e da dor que elas causam.

Desculpa se falo muito vidro, muito caco.

É que estou feliz e sensibilizada com todos, novos e velhos, amores e outros, todos os outros, os que fazem e fizeram parte em nossas salas, de trabalho e de casa.

Vou recolher. Tenho que ir, daqui a pouco teremos novos vidros.
Como a Bel falou, vou me aproximando aos pouquinhos, ou não.

Isadora.

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