terça-feira, 2 de novembro de 2010

Traça

Não me adiantam essas palavras, assim, jogadas no lençol. Ele foi a única coisa que restou de nós dois. Você diz que estamos em dessincronia. Eu entendo. Eu entendo. Eu não entendo. Não me peça para olhar para isso com naturalidade. Não sei se memória sustenta as paredes. Poderia sustentar, mas caso fosse verdade eu não estaria chorando. E eu não estou. Eu estou olhando para o relógio esperando você sair desse deslocamento todo e abrir a porta. Minto. Eu estou, chorando. E tentando ajeitar o relógio. CALMA. NÃO ESTOU FAZENDO DRAMA. NÃO VOU QUEBRAR OS MÓVEIS QUE AINDA RESTAM EM PÉ. Não. Eu vou colher meus gemidos e esperar coberta com suas palavras. Mas é bom. Eu sei que ali o corpo não esquece. Em nenhuma das paredes. A gente sabe. Mas eu não sei se aguento a espera. Vou ficar nutrindo-me de solidão? Isso dói. Ou não. Mas eu estou inventando essa dor, ou me doendo de verdade, para ver quantas onomatopéias eu aguento sozinha.

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